Corrupção Democrática: A Ditadura das Boas Aparências
Corrupção Democrática — A Ditadura das Boas Aparências

💼 Corrupção Democrática:
A Ditadura das Boas Aparências

Por Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen · Fragmentos do Caos / SofteLabs


"A ditadura é ela própria a corrupção", disse hoje o primeiro-ministro Luís Montenegro, numa dessas frases bem arrumadas para manchete. Aparentemente lúcida, mas perigosamente conveniente. Porque dizer que a ditadura é corrupta é o mesmo que dizer que a água é molhada — e não explica nada sobre a sede que ainda sentimos.

Portugal vive há 50 anos numa democracia de papel timbrado, onde a corrupção trocou de uniforme. Já não usa botas nem censura — veste fato italiano, assina contratos e dá entrevistas à televisão pública.

A ditadura mandava prender quem pensava; a democracia contrata quem se cala.

1️⃣ O moralismo seletivo

É fácil apontar o dedo ao passado — difícil é olhar o espelho do presente. Os políticos portugueses têm o dom da moral retroativa: condenam os crimes de ontem para justificar os de hoje. Denunciam a ditadura como se fosse um cadáver útil, enquanto alimentam o corpo vivo da corrupção moderna.

Hoje, não se prende ninguém por opinião — mas quem fala demais perde contratos, concursos ou nomeações. É uma nova forma de censura: económica, silenciosa e eficaz.

2️⃣ A corrupção que sorri

Já não há generais com baús de ouro — há gestores públicos com consultoras, ministros com sociedades anónimas e ex-governantes com "lugares de observação estratégica". O roubo é discreto, a promiscuidade é legal e o povo continua a aplaudir a encenação parlamentar.

Chamam-lhe "democracia europeia", mas é apenas uma versão higienizada da velha oligarquia. A corrupção deixou de ser clandestina — agora é regulamentada.

Em Portugal, a honestidade é o verdadeiro ato de rebeldia.

3️⃣ O Estado capturado

Os partidos transformaram-se em agências de emprego e distribuição de favores. Cada ministério é um feudo, cada cargo um troféu. O mérito não é critério — é ameaça. A burocracia é a muralha onde o povo se despedaça lentamente.

A democracia, tal como a concebemos, tornou-se o mecanismo de manutenção da desigualdade. Vota-se, mas nada muda. Discute-se, mas nada se decide fora do perímetro do poder económico.

4️⃣ A ditadura das boas aparências

Vivemos sob a ditadura do politicamente correto, da comunicação controlada e da "narrativa positiva". Tudo se mede em imagem, tudo se vende em storytelling, tudo se esquece em 24 horas. A corrupção é hoje uma estética — limpa, sorridente, certificada por consultoras de reputação.

É a ditadura da boa imagem: a que sorri ao povo, enquanto o despoja.

A ditadura gritava "ordem e progresso". A democracia murmura "transparência e compliance". O resultado é o mesmo: a submissão com recibo verde.

5️⃣ O silêncio cúmplice

Montenegro sabe — como todos os seus pares — que a verdadeira corrupção não é um escândalo mediático, mas um sistema funcional. Um sistema onde o dinheiro público muda de mãos sob a forma de "parcerias", "apoios", "ajustes diretos" e "fundos estruturais". Todos os governos o fazem; todos os opositores prometem combatê-lo. Nenhum o elimina.

Portugal não é uma democracia corrompida. É uma corrupção democrática — com hino, bandeira e feriado nacional.

6️⃣ Conclusão: o país das boas intenções

Quando o primeiro-ministro fala da corrupção da ditadura, fala para se ouvir a si mesmo. Fala para o arquivo das frases de ocasião, onde a verdade é opcional e a ética é decorativa. O país escuta, comenta e volta à rotina — como se fosse normal viver num sistema em que a honestidade é exceção estatística.

A ditadura caiu há 50 anos. Mas a corrupção — essa — nunca saiu do poder. Apenas mudou de gravata.

Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen
Fragmentos do Caos · Outubro 2025

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