📌 Box de Factos

Tema: Sátira política portuguesa.

Série: Contra o Teatro da Mediocridade

Assinatura: F. Gonçalves & Augustus Veritas

A Experiência Política: A Arte de Não Fazer Nada com Ar de Saber Tudo

Por F. Gonçalves & Augustus Veritas — Série "Contra o Teatro da Mediocridade"


Há dias, o oráculo de serviço das noites de domingo — o Dr. Marques Mendes, homem de verbo cintilante e de estatura proporcional à modéstia da classe política — declarou, solenemente, que "a Presidência da República só pode ser ocupada por alguém com elevada experiência política".

E pronto. Lá ficou o país esclarecido: não basta ser honesto, culto, lúcido ou amar Portugal. É preciso ter experiência política — isto é, dominar a ciência esotérica de prometer sem cumprir, de falar sem dizer nada e de sair ileso de qualquer comissão de inquérito.

Mas o que é, afinal, essa tal experiência?
Será saber roubar sem deixar recibo?
Saber distribuir tachos com precisão cirúrgica?
Saber fazer declarações de "indignação" enquanto se almoça com os mesmos de sempre no Gambrinus?

Experiência política, em Portugal, é sobreviver ao pântano sem se afogar — e, se possível, voltar de lá com uma quinta no Alentejo e um cargo europeu à espera. É o dom de fazer parte do problema e ser convidado para comentá-lo na televisão. É o talento raro de transformar o país num circo e ainda convencer o público de que é um "ato de gestão complexa".

Os mesmos que arruinaram empresas públicas agora dão aulas sobre "boas práticas de governação". Os que venderam o país a retalho, em nome da modernização, agora pregam sobre "soberania nacional". E nós, os tolos contribuintes, continuamos a assistir, de pipocas na mão, ao espetáculo da mediocridade organizada — onde cada novo "estadista" é um repetente da mesma escola de hipocrisia.

Se a experiência política é critério para a Presidência, então preparem o trono para o próximo artista do compadrio, o novo maestro da orquestra desafinada da Nação. Porque, nesta terra de vícios antigos, quem tem experiência de enganar é sempre promovido a exemplo de competência.

Talvez um dia tenhamos coragem de inverter a equação: deixar de premiar os experientes no vício e começar a confiar nos inocentes na virtude. Mas, até lá, continuará a tocar a música da casa: um fado triste tocado num cravo afinado por corruptos. 🎭


Publicado em Fragmentos do Caos — Crónicas em defesa da lucidez num país dominado pelo teatro da mediocridade.

🌌 Fragmentos do Caos: Blogue Ebooks Carrossel
👁️ Esta página foi visitada ... vezes.