Lay-off: a arte subtil de mandar a conta ao povo

Portugal pobre, põe-se sempre a jeito
📦 Box de Factos: Caso Bosch Braga – Outubro 2025
- A Bosch Car Multimédia Portugal, em Braga, vai colocar 2.500 dos 3.300 trabalhadores em regime de lay-off entre Novembro de 2025 e Abril de 2026.
- A empresa alega falta de semicondutores (chips) devido ao bloqueio na cadeia de fornecimento global, nomeadamente com a Nexperia.
- Em 2024, a Bosch assinou contratos de investimento com a AICEP e a Universidade do Minho no valor de 26 milhões de euros, comprometendo-se a manter 3.571 postos de trabalho e criar mais 498.
- O PCP acusa a multinacional de transferir o custo do lay-off para o Estado, após anos de lucros recorde (2,4 mil milhões € em 2024).
- A Bosch Alemanha anunciou um plano global de redução de 13.000 postos de trabalho até 2030, aumentando o risco de deslocalizações.
Há algo de doentio nesta eterna docilidade nacional perante os gigantes.
Chamam-lhes "investidores", e logo se abrem as portas, os cofres e as pernas.
A multinacional chega, promete emprego, exportações, inovação — e o país, ingénuo e submisso, despeja milhões em incentivos, descontos fiscais e louvores parlamentares.
Depois, quando o vento muda e o lucro fraqueja, eles fecham o estaleiro, declaram "lay-off técnico" e mandam a conta para a Segurança Social — o novo mecenas do capitalismo sem rosto.
A Bosch de Braga é apenas mais um capítulo da velha parábola portuguesa:
um país que paga para ter fábricas, e depois paga novamente quando elas param.
Chamam-lhe política industrial.
Mas, na verdade, é mendicância institucionalizada, travestida de modernidade.
Enquanto o Estado subsidia o silêncio e a resignação, os lucros partem para a Alemanha —
e os trabalhadores portugueses, com sorte, recebem meio salário e um "até já" que sabe a nunca.
E ninguém se indigna a sério.
Porque nesta nação de brandos costumes, o roubo é legal quando é bem falado e assinado em inglês.
Portugal pobre… põe-se sempre a jeito.
E depois pergunta, com ar santo, por que continua pobre.
— Francisco Gonçalves,
Série Contra o Teatro da Mediocridade · Fragmentos do Caos