Entre Culpados e Inocentes: Gaza refém do Hamas e da sua própria escolha

Box de Factos: Em 2006, o Hamas venceu eleições legislativas em Gaza. Desde 2007 governa o território com mão de ferro, sem novas eleições e com repressão a opositores. Hoje, mais de metade da população de Gaza tem menos de 20 anos.

É fácil cair na narrativa simplista: de um lado, o povo de Gaza inocente e vítima; do outro, o Hamas, o opressor que usa a população como escudo humano. Mas a realidade é mais complexa e desconfortável.

O Hamas não caiu do céu. Foi eleito. E durante anos, parte da população colaborou: ajudou a cavar túneis, carregou armas, legitimou a retórica da resistência armada. Há, portanto, uma responsabilidade que não pode ser varrida para debaixo do tapete.

No entanto, essa não é toda a história. Desde 2007 Gaza vive sob um regime autoritário, onde quem discorda é silenciado, preso ou executado. Muitos que colaboraram fizeram-no por medo. Outros, simplesmente, porque não havia alternativa. E não esqueçamos: a maioria da população nasceu já sob domínio do Hamas, sem nunca poder escolher outro caminho.

Gaza é um mosaico trágico: cúmplices ativos, conformados silenciosos e inocentes esmagados no meio da engrenagem.

O dilema ético é este: como distinguir uns dos outros quando as bombas caem indiscriminadamente? Como não cair na armadilha da punição coletiva, que só multiplica ódios e perpetua o ciclo de violência?

O povo de Gaza não é homogéneo. Há os que escolheram o Hamas, há os que o toleram, e há os que o rejeitam mas não podem dizê-lo em voz alta. Condenar todos pelo mesmo crime é tão injusto como absolver todos sem olhar às responsabilidades.

No fim, a tragédia é dupla: o Hamas é terrorista e criminoso, mas ao atacá-lo, Israel atinge também os que nada escolheram, os que nasceram reféns de um poder armado e de uma narrativa de ódio. E assim, culpados e inocentes misturam-se nas ruínas de Gaza, sem que o mundo saiba — ou queira — separar uns dos outros.

Gaza não é só Hamas.
Gaza é também um povo dividido entre escolhas, medos e inocências esmagadas.
E enquanto o mundo insistir em tratá-los como um bloco único,
a paz será sempre apenas uma miragem.


Artigo publicado em Fragmentos do Caos
Assinado: Augustus Veritas & Francisco Gonçalves

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