Europa: Entre a Glória e o Abismo

Europa: A Civilização que Esqueceu o Seu Propósito
"A Europa não está a morrer por falta de poder, mas por excesso de indiferença."
A desagregação dos sonhos
A Europa tornou-se uma sombra do seu próprio ideal. O que foi um farol de razão, cultura e progresso transformou-se num labirinto de interesses, dívidas e populismos. Os povos que ergueram catedrais e universidades agora arrastam os pés sob a luz fria dos ecrãs, enquanto os líderes debatem, sem convicção, o futuro que já não controlam.
As nações olham-se com desconfiança, as fronteiras voltam a erguer-se — não em pedra, mas em ressentimento. E a Comissão Europeia, esse monumento à impotência institucional, fala alto e age pouco. Um só voto contrário — o da Hungria, da Polónia, ou de outro qualquer Estado — é suficiente para amarrar o destino de quinhentos milhões de almas.
O império dos burocratas
O projeto europeu envelheceu. Já não vibra com a promessa de Schuman nem com a audácia de Monnet. Tornou-se uma máquina cansada, alimentada por relatórios e orçamentos, incapaz de inspirar, de mover, de criar. Bruxelas é hoje um espelho do impasse: tecnocratas bem pagos, mas sem chama; ministros sem pátria; discursos sem alma.
Enquanto o mundo avança, a Europa debate vírgulas e parágrafos. O tempo passa — e com ele a relevância. A América reinventa-se com inteligência artificial; a Ásia expande-se com uma fúria industrial imparável; e nós, velhos europeus, discutimos a cor das bandeiras e o tamanho dos subsídios.
A rebelião das sombras
O crescimento da extrema-direita não é acaso nem ameaça exterior. É o reflexo da falência moral de um sistema que prometeu igualdade e entregou precariedade. As classes médias desfeitas, os jovens sem horizonte, os velhos esquecidos — são o terreno fértil onde germinam os novos tiranos. Não nasceram nas trevas: foram fabricados à luz do dia pela indiferença dos poderosos.
A Alemanha luta para respirar sob o peso da sua própria austeridade; a França dissolve-se em protestos e dívidas; e o sul da Europa, eternamente paciente, continua a servir cafés à História. Cada país segue o seu rumo, mas todos caminham na mesma direção — para o abismo.
O esquecimento do propósito
O maior inimigo da Europa não é o populismo nem a Rússia. É o esquecimento. Esqueceu-se de que nasceu para unir pela cultura, pela ciência e pela paz — não apenas pelo mercado. Esqueceu-se que civilização não é PIB, é propósito. Que democracia não é voto, é virtude. Que progresso não é lucro, é legado.
A civilização europeia está a perder a alma porque já não acredita em si. Falta-lhe imaginação, coragem, grandeza. E um continente que deixa de sonhar é um continente que começa a morrer.
Um grito de lucidez
É tempo de um despertar. Não um despertar de extremismos, mas de consciência. A Europa precisa de reencontrar a sua música interior — a harmonia entre o pensamento e a ação, entre o espírito e a matéria. Precisa de líderes com visão e não com carreira, de povos que queiram destino e não apenas segurança.
Se nada mudar, o futuro será decidido por outros. E quando a poeira dourada da nossa civilização se dispersar no espaço, o Universo lembrará que um dia aqui existiu uma ideia — bela, mas esquecida — chamada Europa.