Entre a Ideia e o Abismo: A Inovação que Portugal Não Cumpre

Portugal no Palco da Inovação: Entre o Potencial e a Estagnação
— O país que sonha com o futuro, mas continua a tropeçar no presente. —
• Portugal é classificado como "Inovador Moderado" no Painel Europeu de Inovação 2025 (90,7% da média UE).
• Ocupa a 31.ª posição no Global Innovation Index.
• 44,7% das empresas nacionais desenvolveram actividades inovadoras entre 2020 e 2022.
• A despesa empresarial em I&D situa-se em apenas 70% da média europeia.
Portugal gosta de se proclamar inovador. E, em parte, é verdade. Há talento, há ciência, há ideias que brilham em laboratórios, universidades e startups. Mas entre a ideia e o impacto vai um abismo — um abismo feito de burocracia, de medo e de políticas de curto prazo. Somos um país de mentes criativas presos num sistema velho e preguiçoso.
O país investe, mas não transforma. Produz conhecimento, mas raramente o converte em produto, exportação ou patente. E assim, a inovação portuguesa é como um rio que nasce impetuoso, mas se perde antes de chegar ao mar.
⚙️ Um potencial real — mas sem direção
O relatório nacional de inovação mostra que quase metade das empresas inovam. Isso é extraordinário — mas o problema é o que acontece depois. A maior parte dessas inovações ficam confinadas a processos internos, pequenas melhorias, projetos-piloto. Falta-lhes escala, estratégia, e apoio para crescer fora do país.
Enquanto isso, os países nórdicos e do centro da Europa integram inovação no seu ADN económico, enquanto nós a tratamos como um apêndice temporário dos fundos europeus. A Suécia e a Finlândia investem entre 3 e 4% do PIB em I&D; Portugal mal ultrapassa os 1,7%. A diferença não está no talento — está na visão.
🧩 As fragilidades estruturais
- Universidades e empresas continuam desconectadas — a ciência não desce à economia.
- Capital de risco insuficiente — as ideias morrem à porta do mercado.
- Burocracia e lentidão estatal transformam o empreendedor em pedinte de subsídio.
- Cultura de segurança — prefere-se o garantido à ousadia, o manual ao novo.
Portugal é um país que ainda mede a inovação pelo número de projetos submetidos, não pelos resultados alcançados. A palavra "inovação" tornou-se bandeira de discursos políticos, mas raramente espinha dorsal de estratégia nacional.
💡 O que falta para acender o futuro
Para deixar de ser um "inovador moderado", Portugal precisa de uma nova cultura de criação e risco. Não basta financiar — é preciso libertar. Libertar as universidades da rigidez hierárquica. Libertar as empresas da burocracia sufocante. Libertar o talento da necessidade de emigrar para poder prosperar.
- Investimento real em I&D empresarial — não apenas em programas públicos.
- Escala e internacionalização — transformar boas ideias em negócios globais.
- Reforma da propriedade intelectual — facilitar registo e valorização de patentes.
- Educação criativa — ensinar a questionar, não apenas a cumprir.
O futuro não será de quem copia, mas de quem ousa imaginar. E Portugal, se quiser deixar de ser um país de promessas adiadas, terá de aprender a inovar em si mesmo — na política, na economia, e sobretudo, na mentalidade.
"Inovar é romper com a inércia — e Portugal ainda não teve coragem de se romper a si próprio."
— Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen
Série: Contra o Teatro da Mediocridade