Cavaquismo: O País Hipotecado e a Barbatana Cortada

O termo "Cavaquismo" entrou no vocabulário político português como se designasse uma escola de pensamento. Mas na verdade, é apenas a marca registada de uma ilusão: a do progresso rápido, sem raízes, comprado a crédito e pago com o futuro de todos nós.

Nos anos dourados das ajudas europeias, Cavaco Silva vestiu o papel de gestor do milagre económico. Mas o que parecia um renascimento foi, afinal, o início de uma lenta asfixia industrial. Fábricas fecharam, estaleiros calaram-se, oficinas e manufacturas tornaram-se ruínas silenciosas, enquanto o país se transformava num call center à beira-mar plantado.

O cavaquismo hipotecou a soberania produtiva e entregou o país às lógicas do mercado financeiro e à política de favores. E no epicentro dessa teia, o BPN — banco de compadres e bastidores — simbolizou a promiscuidade entre o poder político e o capital especulativo. Quando o castelo ruiu, foi o povo que pagou a reconstrução.

Enquanto os amigos prosperavam, Portugal perdia o seu pulso criador. Cavaco apresentou-se como o economista da estabilidade, mas o que realmente estabilizou foi o pântano da mediocridade que se seguiu. Um país que deixou de sonhar, que trocou fábricas por centros comerciais, e engenheiros por caixas automáticas.

O cavaquismo não foi uma doutrina: foi uma anestesia. Enquanto o povo dormia embalado pelos fundos da CEE, os tubarões do sistema alimentavam-se das vísceras da nação.

Hoje, quando alguém pronuncia "Cavaquismo", não evoca uma era — evoca um erro. Um tempo em que confundimos crescimento com dependência, e prosperidade com aparência. Foi o início do fim de um país industrial, autêntico e soberano.

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