Os F-35 nas Lajes e o Teatro da Hipocrisia Portuguesa

Box de Factos:
– Três caças F-35 norte-americanos fizeram escala na Base das Lajes rumo a Israel.
– Portugal assinou acordos militares com os EUA que permitem estas operações.
– Os mesmos políticos que validaram os acordos fingem agora indignação.
– O episódio expõe a eterna duplicidade portuguesa no xadrez internacional.

Três caças F-35 dos Estados Unidos aterram na Base das Lajes para abastecer antes de seguir rumo a Israel. Um episódio banal no quadro dos acordos internacionais que Portugal mantém com os norte-americanos. Mas, em Lisboa, a classe política reage com histeria e fingida indignação, como se o país tivesse sido vítima de um ultraje à sua soberania.

A verdade é bem mais simples: Portugal assinou, Portugal comprometeu-se, Portugal recebe contrapartidas. Quem aceita a presença de forças norte-americanas na sua casa não pode depois fingir que se surpreende quando a casa é usada para aquilo que foi combinado.

O problema não está na operação em si, mas na teatralização política que se seguiu. Os mesmos que rubricaram os papéis, sorridentes e agradecidos, são os que agora, perante as câmaras de televisão, levantam a voz contra a "ingerência" americana. É a duplicidade nacional em versão caricata: dizer sim em Washington e fingir independência em Lisboa.

Portugal não manda nada nestas operações. A única coisa que controla é a encenação pública da sua própria impotência.

No fundo, o que incomoda a classe política não é a escala dos F-35. O que os irrita é a visibilidade do episódio, o facto de o país se lembrar que, no xadrez global, é apenas uma peça menor, cujos movimentos estão condicionados pelas alianças que aceitou e pelos compromissos que assinou.

É, mais uma vez, a velha farsa portuguesa: indignação seletiva, moralidade de ocasião, e um teatro ensaiado para enganar o povo — esse, sim, espectador passivo de uma democracia de fachada.

— Francisco Gonçalves, Contra o Teatro da Mediocridade
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