O MANTO DE IMPUNIDADE DA BANCA EM PORTUGAL

Por Francisco Gonçalves • Série "Contra o Teatro da Mediocridade"

🧩 Box de Factos
• IRC em Portugal: 21% + derramas).
• Setor bancário: contribuição especial baseada em responsabilidades (CESB).
• Taxa efetiva dos bancos: em média inferior a 12%.
• Lucros em 2024 dos cinco maiores bancos: ~3 mil milhões de euros.
• Imposto efetivamente pago: entre 300 e 400 milhões.

Vivemos num país onde os bancos são tratados como se fossem os próprios senhores do Estado. Lucram centenas de milhões — às vezes milhares — e pagam impostos como se fossem meras start-ups em dificuldades. Em 2024, o setor bancário português arrecadou lucros astronómicos: Caixa Geral de Depósitos, BCP, Santander, BPI e Novo Banco somaram mais de 3 mil milhões de euros de lucro líquido. Mas o imposto efetivo pago foi, em média, inferior a 12%. Uma ironia fiscal que chega a ser obscena.

A Máquina Fiscal de Dois Pesos e Duas Medidas

Enquanto uma PME ou um trabalhador suporta taxas brutais — 21% a 48% —, a banca refina a arte da "engenharia fiscal". Deduz aqui, amortiza ali, transfere acolá. O resultado: riqueza concentrada e impostos diluídos no ar.

EntidadeLucro (2024)Imposto PagoTaxa Efetiva
Caixa Geral de Depósitos1.030 M€120 M€11,6%
BCP900 M€105 M€11,7%
Santander Portugal641 M€68 M€10,6%
BPI472 M€48 M€10,1%
Novo Banco270 M€30 M€11,1%

Somando tudo, o Estado arrecadou cerca de 370 milhões de euros em impostos, num universo de lucros superiores a 3 mil milhões. É como se um trabalhador que ganhasse mil euros pagasse apenas 120 de IRS. É, simplesmente, um insulto à inteligência e à ética fiscal.

Gráficos e Evidências Visuais

Evolução da taxa de IRC em Portugal
Figura 1 — Evolução da taxa de IRC em Portugal (≈21% no continente).
Estrutura da tributação bancária
Figura 2 — Estrutura e diferenças entre tributação bancária e empresarial.
Carga fiscal sobre o trabalho
Figura 3 — Carga fiscal sobre o trabalho em Portugal (entre as mais altas da OCDE).

Uma Questão Ética e Política

Quando um setor que lucra tanto paga tão pouco, a injustiça deixa de ser económica e torna-se moral. A cada euro que o banco poupa em impostos, há um hospital que não repara o seu equipamento, uma escola que não renova os manuais, um idoso que espera mais um mês por uma consulta.

O sistema protege os rentistas e castiga os que trabalham, numa lógica de Estado refém dos lobbies financeiros. A Contribuição Extraordinária Bancária é, na verdade, uma esmola simbólica — um verniz de justiça sobre o betão da desigualdade.

O Futuro: Transparência ou Captura?

Portugal precisa de quebrar este feitiço: tornar públicas as taxas efetivas de IRC e CESB por instituição, exigir relatórios claros e alinhar a tributação com o lucro real, não com as "responsabilidades ponderadas".

Não é apenas uma questão de economia — é de decência. Porque um país onde os bancos mandam mais do que o Parlamento jamais será uma democracia plena, mas uma oligarquia travestida de Estado de direito.

Conclusão

O Estado não deve ser servo da banca — deve ser guardião da justiça fiscal. Enquanto o capital financeiro for tributado como privilégio e o trabalho como culpa, Portugal continuará pobre, mesmo com bancos ricos.

© 2025 Francisco Gonçalves — Fragmentos do Caos
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