A República dos Diplomas Vazios

A Ilusão do Ensino Obrigatório: entre o diploma e a ignorância
Há décadas, Portugal anunciou com pompa o triunfo da escolaridade obrigatória até ao 12.º ano.
Falou-se de progresso, de igualdade, de modernidade.
Mas no silêncio das salas frias, nas escolas cheias de papéis e vazias de sentido,
nas mentes jovens que aprendem a decorar mas não a pensar,
ergueu-se uma das maiores ilusões da nossa história educativa.
O país alargou o ensino, mas não o elevou.
Criou mais anos de escolaridade, mas não mais anos de aprendizagem verdadeira.
Ergueu paredes de inclusão, mas deixou as portas do espírito fechadas.
E na ânsia de se igualar à Europa, confundiu quantidade com qualidade,
obrigação com vocação, diploma com sabedoria.
O resultado está à vista:
gerações que concluem o 12.º ano sem compreender o que leem,
sem saber escrever um texto coerente,
sem dominar o raciocínio lógico ou científico,
sem cultura histórica, ética ou estética —
mas com o coração cheio de cansaço e o olhar vazio de propósito.
A escola, que deveria ser um templo do pensamento, tornou-se uma fábrica de conformismo.
Os professores, aprisionados entre grelhas e relatórios, perderam a liberdade de ensinar com paixão.
Os alunos, domesticados por um sistema que avalia a memorização e não a inteligência,
passam do 1.º ao 12.º ano sem nunca aprender a duvidar com coragem.
E a inclusão, tão nobre em teoria, ficou presa à demagogia política.
Incluiu-se fisicamente — mas não emocional nem cognitivamente.
Criou-se um ensino para todos, mas sem se perguntar como chega a cada um.
Ignorou-se a diversidade de talentos, de ritmos, de mundos interiores.
A escola tornou-se uniforme — e o uniforme é sempre o contrário do humano.
Um país verdadeiramente sábio teria feito o oposto:
transformaria a escola num espaço de descoberta,
onde o erro seria parte da aprendizagem,
onde o aluno não fosse "avaliado", mas revelado.
Um lugar onde se ensinasse menos fórmulas e mais consciência,
menos datas e mais sentido,
menos obediência e mais liberdade.
Mas Portugal preferiu o atalho estatístico.
Hoje mostra números e diplomas, gráficos e metas atingidas,
mas esconde o essencial: a ignorância cultivada na aparência do saber.
E assim, na ilusão de ter educado todos, acabou por educar quase ninguém.
A verdadeira revolução educativa não virá dos ministérios nem dos decretos.
Virá quando o país compreender que ensinar não é "dar matéria" —
é acender consciências.
E que o ensino obrigatório só fará sentido quando for também
um ensino libertador.
— Francisco Gonçalves
Série: Contra o Teatro da Mediocridade