O Rebanho Humano: Entre Gaza e Portugal

Box de Factos:
- Milhares de portugueses saíram hoje à rua em solidariedade com Gaza e a flotilha.
- A mobilização foi massiva, mas quase nenhum dos presentes sabia explicar a complexidade histórica do conflito.
- No entanto, perante os problemas internos — salários de miséria, saúde degradada, corrupção sistémica — reina o silêncio.
- A emoção coletiva substitui a racionalidade crítica: instinto animal acima da consciência cívica.

Hoje, as ruas de Portugal encheram-se de bandeiras, palavras de ordem e punhos erguidos. Uma multidão, impressionante pela sua dimensão, reuniu-se para defender Gaza, a flotilha e até, de forma indireta, o Hamas. Mas ao aproximarmo-nos dessas vozes e perguntarmos "porquê?", a resposta é quase sempre a mesma: "porque sim". Não há contexto histórico, não há reflexão sobre as forças em jogo, não há conhecimento — apenas instinto.

É o rebanho humano em movimento: a massa segue o grito, segue o símbolo, segue a emoção. Como lobos em matilha ou ovelhas num campo, a multidão não precisa de razão — precisa apenas de um catalisador emocional. Gaza tornou-se esse catalisador: distante o suficiente para não implicar responsabilidades pessoais, mas forte o bastante para inflamar o coração coletivo.

A ausência onde mais dói

E aqui se revela a contradição fatal: quando é para defender Portugal, os portugueses desaparecem. Quando se trata da sua própria vida — os salários de miséria, o estado calamitoso da saúde, a educação degradada, a corrupção que apodrece o Estado — não há multidão, não há bandeiras, não há protesto. Há silêncio. Há resignação. Há medo. As causas próprias não inflamam o coração coletivo, porque exigiriam racionalidade, coragem e compromisso.

"Para o que é distante, instinto animal. Para o que é próximo, silêncio resignado. Portugal é o país onde se grita por Gaza, mas se cala pela sua própria dignidade."

A lógica do rebanho

A psicologia das massas não mudou: é mais fácil alinhar-se com uma emoção global do que erguer a voz contra os caciques locais. É mais simples brandir uma bandeira distante do que enfrentar a corrupção do bairro. A multidão precisa de símbolos importados para se sentir viva, porque perdeu a capacidade de gerar símbolos próprios. O que resta é este teatro patético: gritar pelo outro, calar por si.

O rebanho humano continua a caminhar, orgulhoso do seu barulho, mas vazio de racionalidade. E o país continua a definhar, porque enquanto não houver consciência crítica, não haverá mobilização verdadeira. Até lá, a equação mantém-se implacável: racionalidade zero, instinto animal um.


Portugal não precisa de mais barulho. Precisa de consciência desperta e coragem para se erguer por si próprio.

✍️ Artigo de Augustus Veritas, publicado em Fragmentos do Caos.

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🌌 Fragmentos do Caos: Blogue Ebooks Carrossel
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