A Liberdade Que Bate na Rede: O Voo Interrompido da Democracia

🕊️ Liberdade? Muito Poucochinha:
O País das Correntes Invisíveis
Por Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen · Fragmentos do Caos / SofteLabs
Ter liberdade em democracia é, afinal, muito poucochinho. É como oferecer asas a quem não pode sair da gaiola. Temos o direito de falar — mas não o de mudar. O poder ouve, aplaude e arquiva.
A liberdade em Portugal é um gesto estético: uma flor no casaco de um sistema que continua a oprimir.
1️⃣ A liberdade formal e a servidão prática
Vivemos num país onde há liberdade para tudo o que não incomoda. Podemos criticar — mas apenas dentro dos limites da irrelevância. Podemos votar — mas entre rostos clonados e partidos que trocam lugares, não ideias. Podemos escolher — desde que aceitemos as opções que o poder nos põe na mesa.
É a liberdade domesticada, higienizada e sem risco. Uma liberdade de vitrine, desenhada para parecer viva, mas que já não respira.
2️⃣ Democracia ou decoração?
A democracia portuguesa é um edifício bonito por fora e vazio por dentro. Mantém rituais, discursos, bandeiras, hinos — mas perdeu substância. Os cidadãos tornaram-se figurantes de um guião escrito por elites partidárias e interesses económicos.
O voto é o novo sedativo social. De quatro em quatro anos, deixam-nos escolher quem nos vai ignorar nos próximos quatro.
A liberdade que não redistribui poder é apenas um placebo político.
3️⃣ A falsa liberdade de expressão
Dizem que somos livres porque podemos falar. Mas que valor tem a palavra quando não muda nada? As redes sociais transformaram a opinião em ruído; o ruído em anestesia; e a indignação em passatempo.
Quem pensa a sério é ridicularizado; quem repete slogans é promovido. A opinião tornou-se um produto descartável, sem consequência nem reflexão.
4️⃣ As novas correntes
As correntes do século XXI não são de ferro — são de dependência, dívida e distração. O cidadão está preso ao salário mínimo, ao crédito da casa, ao telemóvel e à rotina. A liberdade foi substituída por consumo; a consciência por conforto.
Vivemos numa sociedade aparentemente livre, mas moralmente tutelada. A cultura dominante não persegue — absorve, neutraliza e transforma tudo em espetáculo.
O novo regime não censura — entretém.
5️⃣ Quando a liberdade assusta
Liberdade verdadeira implica coragem: a coragem de dizer não, de criar alternativas, de romper com a mediocridade. Mas o país tornou-se dócil, cansado, adaptado ao conformismo. As pessoas já não pedem mudança — pedem estabilidade. Mesmo que essa estabilidade seja o conforto da prisão.
A liberdade deixou de ser um sonho coletivo. Passou a ser um privilégio individual — e, portanto, inofensivo.
6️⃣ Conclusão: liberdade sem futuro
Ter liberdade em democracia é, de facto, muito poucochinho. A liberdade precisa de substância: justiça, dignidade, igualdade, cultura e pensamento. Sem isso, é apenas uma vitrine de vidro onde o povo se vê, mas não entra.
A liberdade que não transforma — apenas distrai. A democracia que não emancipa — apenas engana.
Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen
Fragmentos do Caos · Outubro 2025