A Guerra em Gaza e os "acordos" com o terrorismo

A Trégua das Sombras — quando a paz é apenas o intervalo entre duas guerras
🕊️ Box de Factos
- O Hamas afirmou não aceitar o desarmamento exigido por Israel como condição de paz.
- Israel considera impossível qualquer acordo sem a destruição militar da organização.
- As negociações mediadas por Qatar, Egipto e EUA apontam apenas para uma trégua temporária e a libertação parcial de reféns.
- O conflito permanece num impasse moral, político e humano.
O silêncio entre as explosões
Chamam-lhe trégua, mas é apenas o silêncio entre duas explosões. No Médio Oriente, a palavra "paz" perdeu o seu significado original e passou a designar o período em que as armas são limpas, reabastecidas e realinhadas para a próxima ofensiva.
As câmaras do mundo suspiram, os líderes declaram esperança, e o planeta finge por instantes que o inferno pode ser adiado. Mas nos túneis, nos bunkers e nas salas de comando, a contagem regressiva já começou.
O impasse eterno
Israel exige o desarmamento total do Hamas. O Hamas responde que o desarmamento é rendição. E assim o impasse se eterniza — como um eco circular que atravessa gerações. Nenhum dos lados pode ceder sem se autodestruir, e ambos preferem morrer de pé do que negociar de joelhos.
É a lógica da guerra santa e da vingança política: um duelo de espelhos, onde cada tiro é uma oração e cada mártir uma justificativa para o próximo ataque.
Os reféns e o preço da sobrevivência
No meio deste teatro trágico estão os reféns — homens, mulheres e crianças — transformados em fichas de um jogo perverso. Entregá-los todos seria, para o Hamas, um gesto de desarmamento simbólico. Por isso o faz aos poucos, em trocas, em gestos calculados. Não é crueldade — é a política da sobrevivência numa guerra onde a compaixão é vista como fraqueza.
Cada refém libertado é um fôlego de esperança; cada um retido é uma sombra que paira sobre o mundo, lembrando que a humanidade continua refém de si própria.
O teatro da moral
Os líderes ocidentais condenam, com voz grave e pose estudada, a violência de ambos os lados. Depois assinam contratos de armamento e enviam notas diplomáticas cheias de retórica vazia. A moral, aqui, é uma cortina de fumo — e o fumo, como sempre, sobe de corpos reais.
A cada ciclo de guerra, o mundo inteiro reaprende o cinismo: as manchetes duram três dias, as feridas uma eternidade.
A paz possível
A paz verdadeira não nascerá de acordos políticos nem de imposições militares. Surgirá apenas quando um dos lados tiver coragem de ver o outro como humano — e não como inimigo. Mas essa coragem é rara. Mais rara que água em Gaza e que verdade nas Nações Unidas.
Enquanto isso, as tréguas continuam — pequenas, frágeis, efémeras. E cada uma delas é apenas o prelúdio do próximo bombardeamento, a pausa breve onde as mães rezam e os filhos perguntam o que é o silêncio.
"Chamam-lhe trégua, mas é apenas o intervalo entre duas guerras."
✍️ Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen
Série "Contra o Teatro da Mediocridade" — Fragmentos do Caos