A Beleza Cruel do Silêncio

A Beleza Cruel do Silêncio: As Mulheres Que o Mundo Esconde

Entre a fé e o medo, o rosto oculto da submissão

🕊️ Box de Factos — Burqa e Niqab

  • Burqa: veste integral que cobre o corpo e o rosto, com uma grelha de tecido sobre os olhos; predominante no Afeganistão.
  • Niqab: cobre o rosto, deixando apenas os olhos à vista; usado em diversos países muçulmanos.
  • Origem: prática social pré-islâmica, incorporada mais tarde por regimes de inspiração wahhabita e talibã.
  • Significado político: símbolo do controlo patriarcal e da segregação de género, não um mandamento corânico.

"Dei a vida por mulheres de burqa, darei o resto para que não a usem." A frase, dita com o peso da experiência e o aço do compromisso, atravessa-nos como uma rajada de vento quente vinda de Cabul. É o grito de quem viu a beleza e o desespero coexistirem na mesma figura: uma mulher coberta da cabeça aos pés, cujo olhar — o único ponto de luz — carrega o peso de mil anos de silêncio.

O autor recorda o Afeganistão, país que lhe ficou no coração, e um quadro que trouxe de lá: o retrato de uma mulher de burqa. "De enorme beleza, mas de uma beleza cruel." Cruel, porque essa beleza não liberta — aprisiona. Cruel, porque o rosto por detrás nunca se verá. Cruel, porque o quadro não é arte — é memória petrificada de um grito abafado.

"A burqa não é um símbolo de fé — é um silêncio imposto com agulha e medo."

A *burqa* e o *niqab* tornaram-se instrumentos de poder disfarçados de devoção. Não representam o Islão, representam o machismo teológico e o medo ancestral da mulher enquanto ser livre e visível. São vestes que não protegem, mas isolam. São jaulas de tecido onde a alma respira o mínimo necessário para não morrer completamente.

No Ocidente, muitos — por culpa ou conveniência — confundem respeito cultural com complacência. Mas respeitar não é aceitar o sofrimento. E tolerar o intolerável é a forma mais covarde de colonialismo moral.

Quando um homem diz que lutará "até ao último fôlego" por essas mulheres, não fala apenas delas — fala de nós todos. Fala da humanidade perdida nas sombras da religião e do poder, fala da arte que tenta preservar o que a política destrói, fala da beleza que dói, porque é o espelho da nossa indiferença.

A mulher sob a burqa é o retrato mais cruel do século XXI: invisível, imóvel, esquecida — mas ainda viva, ainda sonhadora, ainda capaz de resistir. E talvez, quando o tecido finalmente se rasgar, dela saia não apenas um rosto, mas uma luz que nos recorde o essencial: que nenhum Deus pede que se apague a luz de uma mulher.


Inspirado no artigo de Rui Duarte Silva, "Dei a vida por mulheres de burqa, darei o resto para que não a usem" (PÚBLICO, 20/10/2025). Ler artigo original.

— Augustus Veritas & Francisco Gonçalves
Série: Contra o Teatro da Mediocridade

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