1️⃣ O País do Tudo Grátis e da Consciência em Falência

A República do Tudo Grátis — O País dos Direitos sem Deveres
Portugal tornou-se o país do "eu tenho direito". Direito à escola gratuita, à universidade sem propinas, aos transportes sem bilhete, à saúde sem espera, ao subsídio sem contrapartida. É a pátria onde todos exigem o seu quinhão de generosidade estatal — e ninguém quer saber quem paga a conta.
O novo orgulho nacional é viver à custa de um Estado que já não se aguenta de pé. A retórica dos "direitos sociais" transformou-se em anestesia colectiva. O mérito, o esforço, o contributo e a responsabilidade foram substituídos por uma fé ingénua no "Estado papá" — essa criatura mitológica que tudo dá, mas que vive apenas do suor dos mesmos de sempre.
Em nome da justiça social, criámos a injustiça moral. Pagam os que cumprem, gastam os que reclamam. E no fim, ninguém quer dever nada, mas todos querem receber tudo. Portugal é hoje uma casa onde todos se sentam à mesa, mas poucos ajudam a lavar a louça.
A Cultura da Mão Estendida
Há cinquenta anos, os portugueses gritavam "Liberdade!". Hoje, gritam "Subsídio!". De uma revolução nasceram direitos; de décadas de complacência nasceu uma geração que confunde liberdade com gratuidade.
Não é a pobreza que nos prende — é o conforto da dependência. Não é a injustiça que nos revolta — é o medo de perder o que é dado. Criámos uma cultura do "Estado-barriga", onde o cidadão médio já não se vê como parte da solução, mas como cliente da máquina pública.
"Em Portugal, a mão estendida substituiu a mão que trabalha. E o Estado é o grande distribuidor de ilusões embaladas em papel timbrado."
A Inversão Moral
O problema não é haver apoios — é haver mentalidade de parasita. O discurso público idolatra o "direito" e diaboliza o "dever". O cidadão exemplar, que trabalha e paga impostos, é o novo tolo da aldeia, enquanto o esperto que vive da máquina é tratado como vítima sistémica.
Os políticos, cúmplices dessa ilusão, prometem o impossível: gratuidade universal em nome de votos fáceis, sabendo que quanto mais dependente for o povo, mais dócil será o eleitorado. Assim, o país vai-se afundando num mar de direitos fictícios pagos com dívida real.
Não há país viável sem deveres. Não há democracia madura sem mérito. E não há liberdade verdadeira sem responsabilidade partilhada.
A Verdadeira Revolução
Portugal não precisa de mais subsídios — precisa de consciência. De cidadãos que queiram contribuir antes de exigir, de estudantes que queiram aprender antes de pedir, de políticos que saibam servir antes de se servirem.
Talvez um dia despertemos desse transe de paternalismo. Talvez percebamos que a igualdade não se constrói com esmolas, mas com oportunidades criadas por quem trabalha, inova e se responsabiliza.
Até lá, continuaremos a viver nesta república de ilusões, onde o Estado finge que dá e o povo finge que acredita.
«Em Portugal, todos querem direitos. Mas os deveres — esses são sempre para os outros.»
Francisco Gonçalves — Fragmentos do Caos
Série: Contra o Teatro da Mediocridade