💰 Lucros Celestiais, Impostos Subterrâneos — A Fé dos Banqueiros na Impunidade Fiscal

Box de Factos:
Os bancos portugueses registam lucros recorde, mas reagem com "surpresa" a uma nova taxa de tributação proposta pelo ministro das Finanças. O Estado, temeroso de novas inconstitucionalidades, hesita. O contribuinte assiste — e paga.

Há uma palavra que a banca portuguesa aprendeu a conjugar melhor do que qualquer verbo da língua portuguesa: receber. Quando os lucros são escandalosos, chamam-lhe "gestão eficiente". Quando alguém tenta cobrar-lhes um imposto justo, chamam-lhe "inconstitucionalidade". E assim, de parecer jurídico em parecer jurídico, vão santificando o roubo legalizado.

Enquanto o povo paga IVA em cada pão e IRS em cada suspiro, os grandes templos financeiros do país continuam a operar sob o dogma da imunidade. Há décadas que a banca é o altar invisível onde todos os governos ajoelham — de esquerda, de direita ou de indecisos.

A liturgia da surpresa

Dizem estar "surpreendidos" com a nova taxa anunciada por Sarmento. Claro que estão: a surpresa é o disfarce preferido de quem já sabia tudo. A banca finge-se inocente, como o aluno apanhado a colar nas provas do Estado, e responde com a mesma serenidade com que distribui prémios aos administradores. Lucros de mil milhões, impostos de menino pobre.

O filme que se repete

O Estado, receoso, fala de prudência: se for inconstitucional, devolve-se tudo daqui a uns anos. É o déjà vu nacional. Devolvem-se milhões aos bancos, mas não há retroatividade quando o povo paga em excesso. A lei, afinal, é um espelho: reflete apenas quem se olha de cima.

A moral dissolvida na contabilidade

Portugal é o único país onde um banqueiro pode dizer que "não sabia" e continuar a receber bónus. A moral dissolve-se nas notas de rodapé dos relatórios trimestrais. E os governos, incapazes de legislar com coragem, chamam "diálogo institucional" ao medo de perder donativos eleitorais.

O imposto que nunca chega

O que o povo gostaria de ver não é uma taxa ocasional, mas uma justiça permanente: um sistema onde o lucro obsceno é tributado como o é o suor honesto. Mas neste país, a banca é o altar da impunidade fiscal — e o Estado, o coroinha obediente que segura a vela enquanto o ouro entra no cofre.

Conclusão

O problema não é económico: é ético. Não há democracia que sobreviva quando o poder financeiro se comporta como um deus e o poder político como um servo. O povo, esse, continua a rezar ao milagre da justiça — um milagre que nunca acontece porque foi hipotecado ao banco da indiferença.

«A banca não paga impostos: paga campanhas.»
— Fragmentos do Caos / Chronicles

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