Web Summit, Web Submissos — A Liturgia da Mediocridade Nacional

Box de Factos:
O PS prepara-se para aprovar 7,2 milhões de euros para a Web Summit — verba que o próprio partido chumbou em Setembro. A Câmara de Lisboa tenta agora viabilizar o pagamento através de "reprogramação de compromissos bancários". O evento, outrora símbolo de inovação, é hoje uma feira de egos e slogans digitais.

Há decisões políticas que revelam mais do que mil discursos: mostram o retrato moral de um país. O PS, que há poucas semanas rejeitara o pagamento de 7,2 milhões à Web Summit, surge agora pronto a aprovar o mesmo montante — desta vez, travestido de "reprogramação financeira". O mesmo dinheiro, o mesmo erro, mas outra encenação.

Portugal continua prisioneiro da sua provincianice disfarçada de cosmopolitismo. A Web Summit, longe de ser um motor de inovação, tornou-se um ritual mediático — uma liturgia onde políticos, gestores e oportunistas rezam em torno do altar da tecnologia vazia, da selfie, do networking sem propósito, da modernidade de plástico.

Os mesmos governantes que falharam em reformar o sistema educativo ou investir na ciência nacional, gastam milhões em um evento que serve mais para mostrar que "estamos na moda" do que para construir futuro. É a velha doença lusitana: confundir aparência com progresso, brilho com substância.

A Câmara de Lisboa fala em "reprogramar compromissos bancários". Tradução: mais dívida, mais remendos, mais um truque para que tudo pareça possível — enquanto o essencial continua a definhar. Portugal financia a vitrina, não o conteúdo. Aplaude o palco, mas esquece o que está por detrás do pano.

E o povo? Observa, indiferente, anestesiado por décadas de desilusão. Já ninguém exige coerência — porque a incoerência tornou-se a regra. Já ninguém exige honra — porque a vergonha deixou de ser uma virtude nacional.

Web Summit? Não, Web Submissos. Um evento que simboliza o país: dependente, ansioso por agradar, e sempre pronto a vender dignidade em troca de um minuto de atenção no noticiário da noite. Esta é a liturgia da mediocridade — o hino da República dos Pequenos Interesses.

Um país que se habituou a ser submisso, perde a vontade de ser grande.
Um povo que aceita a mentira, esquece o valor da verdade.
E quando a dignidade se torna luxo, a liberdade já morreu.


Francisco Gonçalves
Série: Contra o Teatro da Mediocridade — Fragmentos do Caos, 2025

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