🟡 A Pátria dos Microfones e o Exílio das Ideias

Portugal: O País dos Comentadores e o Silêncio das Ideias
Em 2025, Portugal tinha mais comentadores por metro quadrado do que cientistas activos.
A maioria dos "painéis de especialistas" televisivos é composta por ex-governantes, assessores políticos ou analistas que dependem financeiramente dos próprios grupos de media que comentam.
Portugal está inundado de comentadores. Gente "especialista" em tudo, ex-ministros incompetentes reciclados como sábios da desgraça, e outros tantos a soldo dos governos ou dos aparelhos partidários. As televisões e jornais já não informam — formatam. Produzem opinião em série, embalam-na em frases sonantes e servem-na ao público como se fosse pensamento.
O país já não tem notícias. Tem narrativas. Tem guionistas do conformismo e atores da manipulação. O cidadão deixou de ser convidado a pensar — é instruído a concordar. E quem discorda é rapidamente rotulado: "radical", "populista", "perigoso", ou pior — "sem noção".
Vivemos numa democracia onde o debate se esvaziou e o comentário substituiu a análise. Os "painéis de opinião" são agora os novos tribunais da verdade, onde meia dúzia de rostos repetem, em uníssono, as teses de quem lhes paga o microfone.
E o povo? O povo observa, cansado e entorpecido, o desfile dos mesmos nomes, as mesmas vozes, as mesmas mentiras com novo verniz. Enquanto isso, o país definha na ignorância cultivada — essa que é a mais útil das servidões.
Portugal tornou-se o país das palavras ocas e das ideias ausentes. Onde o pensamento livre é subversivo e o silêncio crítico é censurado pelo ruído mediático dos "sabichões do nada".
Pensar, hoje, é um acto revolucionário.
Falar com verdade — um perigo.
Resistir ao conformismo — o último gesto de dignidade.
Augustus Veritas Lumen & Francisco Gonçalves
Série: Contra o Teatro da Mediocridade — Fragmentos do Caos, 2025