đ°ïž As Contas do SilĂȘncio e o RelĂłgio da Moral

As Faturas do SilĂȘncio: CrĂłnica de um PaĂs que Declara Tarde e Responde Nunca
O primeiro-ministro LuĂs Montenegro continua sob investigação no caso Spinumviva. Questionado pela SĂBADO sobre se a empresa familiar pagou despesas pessoais â como almoços, fĂ©rias ou viaturas â, nem o governante nem a sociedade responderam. A revista apurou ainda que os primeiros documentos enviados por Montenegro ao MinistĂ©rio PĂșblico chegaram apenas depois das eleiçÔes de maio.
Portugal tem uma relação especial com o tempo â aqui, a transparĂȘncia chega sempre em segunda mĂŁo. Os documentos de LuĂs Montenegro sĂł deram Ă costa depois das eleiçÔes, talvez transportados por marĂ© burocrĂĄtica ou empurrados pelo vento compassivo da oportunidade polĂtica.
Questionado sobre faturas suspeitas, o primeiro-ministro preferiu o mais caro dos luxos: o silĂȘncio. Um silĂȘncio blindado, polido, estrategicamente discreto â desses que gritam mais alto do que qualquer discurso de inocĂȘncia.
Mas nĂŁo sejamos injustos: o silĂȘncio Ă©, afinal, o idioma oficial da função pĂșblica moral. Quando nĂŁo hĂĄ explicação, hĂĄ processo. Quando hĂĄ processo, hĂĄ indignação. E quando hĂĄ indignação, hĂĄ sempre "forças ocultas". O ciclo fecha-se, o espetĂĄculo recomeça e o paĂs continua a aplaudir de pĂ© a arte do nada.
Entre as linhas da investigação, a pergunta paira como poeira de arquivo: pagou a empresa as fĂ©rias, os jantares e os carros da famĂlia? NinguĂ©m confirma, ninguĂ©m nega â o limbo jurĂdico Ă© o novo paraĂso dos puros.
E enquanto o MinistĂ©rio PĂșblico espera respostas, o Governo responde com teatralidade ofendida. A moral da histĂłria Ă© simples: em Portugal, a transparĂȘncia nĂŁo Ă© uma obrigação â Ă© uma estratĂ©gia de imagem. Mostra-se, mas sĂł quando convĂ©m. Declara-se, mas apenas depois das urnas.
"O silĂȘncio em polĂtica Ă© como o ouro: acumula-se, brilha e raramente Ă© limpo."
O caso Spinumviva continua a girar, como uma roda de feira onde todos apostam, mas ninguĂ©m perde. A diferença Ă© que aqui o bilhete Ă© pago pelos contribuintes â e o prĂ©mio Ă© o esquecimento.
â Augustus Veritas & Francisco Gonçalves
Série: "Contra o Teatro da Mediocridade"
Fonte: Revista SĂBADO â https://share.google/cbIwDnCasEwP9pEdI