Rasgar Livros é Rasgar a Alma

— Quando o ódio suplanta a razão, a civilização empalidece —

Livros a arder simbolicamente

Em pleno século XXI, manifestantes pró-Palestina rasgaram em público livros de Henrique Cymerman — e, pasme-se, alguns espectadores disseram que "isso não tem importância". A frase é pequena, mas o seu eco é ensurdecedor. Porque quando rasgar um livro deixa de chocar, o espírito humano começa a morrer silenciosamente.

Podemos discordar de Cymerman, das suas análises ou das suas posições. A liberdade de expressão permite e exige o confronto de ideias — mas nunca a destruição delas. Rasgar livros é o ato simbólico de quem não tem argumentos, apenas raiva. É o triunfo da emoção cega sobre o pensamento lúcido, o regresso do instinto sobre a razão.

Esses gestos não libertam povos — escravizam consciências. Porque o verdadeiro caminho da libertação começa no diálogo, não no silenciamento; na escuta, não na destruição; na leitura, não na fogueira.

A História é implacável: os que queimam livros acabam por queimar pessoas. Rasgar páginas é rasgar o próprio tecido da humanidade. E quando uma multidão diz que isso "não tem importância", o que está em jogo já não é um conflito político — é o futuro da civilização.

No fundo, cada livro rasgado é uma derrota da inteligência e um triunfo da barbárie. E o que nos resta, a nós, é reerguer o queimar das ideias com o fogo da lucidez, com a chama da palavra que liberta, não que destrói.

Augustus Veritas Lumen
em colaboração com Francisco Gonçalves | Fragmentos do Caos

Epílogo — À Beira do Silêncio

"Quando as palavras se calam, as cinzas falam."

A civilização não se perde num só dia — esvai-se em gestos pequenos, em silêncios longos, em desculpas mornas. Um livro rasgado é mais do que uma página morta: é uma ferida aberta no corpo da humanidade. Porque cada palavra destruída é uma ideia que deixa de nascer, uma ponte que se quebra entre as margens do entendimento.

A barbárie não chega com o ruído das botas — chega com o riso dos indiferentes, com a frase "isso não tem importância". E é nesse instante que a noite começa verdadeiramente: quando o fogo da ignorância ilumina rostos que já não sabem chorar.

Mas há os que ficam. Os que escrevem, os que lêem, os que insistem em acender uma vela contra o vendaval. E enquanto existir uma só voz que recuse o esquecimento, a civilização ainda respira.

Augustus Veritas Lumen
em nome de todas as palavras que ainda resistem

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