đ„Entre Fardas e Farsas â o silĂȘncio cĂșmplice do poder

O Almirante e o Mapa do Medo â quando o poder teme o voto
Se o que disse Ă© verdade â e tudo indica que o Ă© â, entĂŁo assistimos a uma das manobras mais indecorosas do poder polĂtico portuguĂȘs. Um ato que revela medo. Medo de que alguĂ©m sem o selo partidĂĄrio, sem o apadrinhamento das mĂĄquinas, possa disputar o trono simbĂłlico de BelĂ©m.
O poder, quando se sente ameaçado, nĂŁo reage com grandeza: reage com astĂșcia. Oferece cargos, distribui honrarias, compra silĂȘncios. Ă a velha liturgia dos corredores de Lisboa: o talento cooptado, a consciĂȘncia anestesiada e o mĂ©rito transformado em moeda de troca.
Mas o gesto tem um preço. Porque ao aceitar o jogo, o paĂs perde. A democracia transforma-se num tabuleiro onde os generais sĂŁo peĂ”es e os peĂ”es nunca chegam ao fim. E o povo â esse povo tantas vezes traĂdo â percebe, ainda que nĂŁo saiba dizer porquĂȘ, que o voto jĂĄ nĂŁo elege: apenas confirma o que jĂĄ foi decidido nas sombras.
O caso Gouveia e Melo Ă© mais do que um episĂłdio: Ă© um espelho. Mostra-nos que o sistema teme qualquer sopro de autenticidade, qualquer figura que surja sem o manual de obediĂȘncia. E lembra-nos que Portugal continua refĂ©m de uma classe polĂtica que prefere corromper do que ceder espaço ao mĂ©rito.
BelĂ©m Ă© o sĂmbolo mĂĄximo da RepĂșblica â mas parece ser tambĂ©m o ponto mais vulnerĂĄvel do mapa do medo. Um medo antigo, viscoso, que se disfarça de estabilidade e se alimenta do conformismo.
Talvez, um dia, Portugal tenha coragem de olhar-se ao espelho sem se envergonhar. Mas para isso, primeiro, serĂĄ preciso que o povo perceba que a verdadeira chefia â a que conta â Ă© a da consciĂȘncia livre.
"Nenhum trono Ă© seguro quando o povo desperta." â A.V. Lumen
đ Publicado em Fragmentos do Caos â SĂ©rie Contra o Teatro da Mediocridade
Coautoria: Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen