Portugal: A Economia que Cresce no Papel

Há títulos que soam a música celestial — e este é um deles. "Portugal é a economia que mais cresce na UE" parece o início de uma nova era, o milagre das estatísticas, a redenção de um país cansado. Mas por detrás do brilho do número esconde-se a velha arte do engano institucional.

Sim, crescemos. Crescemos porque partimos de baixo, de muito baixo. Crescemos porque o buraco era tão fundo que qualquer salto parece voo. Crescemos porque a comparação é feita com os nossos próprios desastres — não com os que nos ultrapassaram há décadas.

Enquanto os gráficos sobem, os salários ficam imóveis, a produtividade definha e a dívida pública engorda como um monstro invisível que todos fingem não ver. O milagre económico português é, na verdade, um milagre sem pão.

Portugal cresce, sim — mas cresce no papel. Cresce nas folhas do Excel e nas conferências de imprensa. Cresce como cresce o fumo: para o alto, dissolvendo-se no ar.

Há uma euforia artificial no discurso político, como se o crescimento de 2% fosse sinónimo de prosperidade. Mas a verdade é simples: a economia portuguesa não cria riqueza sustentável. Cria estatísticas momentâneas, empregos precários e sorrisos ministeriais para as câmaras de televisão.

Enquanto os jornais publicam manchetes e o povo aplaude por reflexo, a vida real continua no mesmo sítio — nos recibos verdes, nas rendas que consomem metade do salário, na juventude emigrada e nas famílias que sobrevivem com esperança e resignação.

Portugal é o país que mais cresce — mas é também o que mais rasteja perante a mediocridade política. É o atleta cansado que corre num tapete rolante, convencido de que se move em direcção ao futuro.

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