⚙️ Entre Linhas de Código e Lições de Vida

📘 O Livro, o Código e a Liberdade
Conheci o Princípio de Peter aos dezassete anos, quando estudava Computação e Programação, em Lisboa. Vivendo então na Cruz de Pau, em casa dos meus tios, foi ele quem me ofereceu o livro — sem o saber, estava a dar-me uma vacina. Uma vacina contra o veneno subtil da hierarquia cega, e contra a ilusão de que subir é sempre crescer.
Durante mais de quinze anos trabalhei em programação e análise de sistemas, mergulhado no código, nos fluxos lógicos e nas estruturas invisíveis que fazem o mundo digital pulsar. E, nesse tempo, recusei cargos de chefia. Não por desinteresse ou medo, mas por lucidez: eu sabia que era um excelente programador e analista — e não queria perder isso em troca de uma secretária mais alta e um título mais pomposo.
A partir dos meus trinta e quatro anos, quase fui forçado a aceitar lugares de chefia. E aceitei — por um tempo. Mas depressa percebi que esse não era o meu lugar, para além de não ter ficado muito animado com este tipo de desafios. Perdi alguma coisa, sim: estatuto, poder, talvez até oportunidades. Mas ganhei tudo o resto: a honestidade para comigo próprio, e a alegria de continuar a fazer o que realmente amo — programar, criar, integrar, transformar ideias em sistemas vivos.
O Princípio de Peter ensinou-me que a verdadeira competência não precisa de crachá, apenas de coerência. E que o mérito, quando é autêntico, não sobe nem desce — apenas permanece fiel àquilo que é.
"Preferi continuar artesão do código a tornar-me gestor da mediocridade."
— Francisco Gonçalves
Imagem simbólica: A luz do conhecimento que ilumina o caminho do programador livre.