⚖️ O Tempo Parado da República

🕰️ A Averiguação Preventiva Mais Longa do Mundo
República das Eternas Diligências
Em Portugal, o tempo tem uma forma peculiar de existir — não passa, hesita. E na justiça, sobretudo quando o poder político está por perto, o relógio não anda: dialoga consigo próprio.
A averiguação preventiva a Luís Montenegro já se tornou um caso de estudo — ou melhor, um caso de hibernação processual. Há países onde a justiça é rápida, certeira e visível. Por cá, ela é uma entidade transcendental, que vive num limbo metafísico entre o "aguardam-se diligências" e o "aguarda-se decisão sobre o que se aguarda".
O primeiro-ministro, homem de fé e paciência, já deve ter percebido que a justiça portuguesa não dorme — medita. E nesta longa meditação, o país continua suspenso, à espera que algo se descubra, mas de preferência sem abalar ninguém.
É a nossa versão do "Deixa andar" aplicada ao Estado de Direito: averigua-se, prolonga-se, e quando o povo já se esqueceu, arquiva-se com dignidade republicana.
"A lentidão é a forma mais sofisticada de absolvição política."
Enquanto isso, o cidadão comum, que paga e desespera, observa esta coreografia de inércia e pensa: "Se fosse comigo, já tinha sido acusado, julgado e penhorado antes do pequeno-almoço."
Mas na República das Diligências Eternas, há dois tempos: o da plebe, que corre; e o do poder, que repousa. Um vive no calendário, o outro no purgatório dos processos inconclusos.
No final, talvez esta averiguação se transforme em monumento nacional — uma estátua à paciência processual, com o lema gravado em mármore:
"Aqui repousa a verdade. Em estudo."
📜 Série: Contra o Teatro da Mediocridade
Autor: Francisco Gonçalves | Coautoria: Augustus Veritas