Os Traidores de Abril e a República dos Canalhas

Contra o Teatro da Mediocridade: Da Democracia à Canalhocracia
Passados 51 anos sobre o 25 de Abril, os ideais de liberdade, justiça e igualdade foram corroídos.
Portugal transformou-se numa democracia formal, mas capturada por uma elite que perpetua privilégios — aquilo a que muitos já chamam canalhocracia.
Abril nasceu para derrubar as paredes da opressão, para dar voz a um povo amordaçado e devolver dignidade ao trabalho e à vida. Mas meio século depois, o que resta dos cravos? Apenas a cor murcha num país que assiste, impotente, à substituição da democracia por uma canalhocracia bem oleada.
Os corredores do poder tornaram-se corredores de condomínio: governantes, ex-ministros e banqueiros passam de porta em porta, como vizinhos que nunca abandonam o prédio. Hoje deputado, amanhã administrador, depois consultor — sempre pagos pelo mesmo bolso: o do povo.
Os ideais de Abril diziam: "o Estado ao serviço do cidadão". Mas o que vemos é o contrário: um Estado capturado por castas que se protegem, se nomeiam, se blindam, como se a pátria fosse herança de família.
Enquanto isso, a juventude definha em contratos a prazo, salários de miséria e emigração forçada. O país da canalhocracia alimenta-se da precariedade de uns para sustentar o privilégio de outros. É o teatro mais cruel: onde o povo paga para assistir, mas nunca escolhe o enredo.
Abril foi traído, não pela memória dos que tombaram, mas pelos vivos que transformaram a esperança em negócio. Não é democracia quando o poder já não emana do povo, mas da intriga de corredores. Não é liberdade quando a verdade é abafada pelo compadrio. Não é igualdade quando uns vivem suspensos na eternidade dos privilégios e outros sobrevivem no abismo da incerteza.
Portugal precisa de um novo Abril — não de cravos nas espingardas, mas de coragem na consciência. Ou o povo toma de volta o palco, ou continuará a ser figurante numa peça escrita por canalhas.
Artigo autoria de 📖 Augustus Veritas
Publicado em Fragmentos do Caos — Série Contra o Teatro da Mediocridade