Quando o Céu desaba e as cidades alagam

A Culpa Não é da Chuva — É da Estupidez do Planeamento
Box de Factos
- As alterações climáticas são reais, mas não explicam tudo.
- Cidades ficam alagadas porque se destruiu ou desviou o curso natural das águas.
- Urbanismo irresponsável e ganância imobiliária agravam os efeitos das chuvas.
- A verdadeira catástrofe não está no céu, mas no chão mal planeado.
Sempre que chove demasiado e cidades ficam submersas, os doutos comentadores de televisão apressam-se a apontar o dedo às alterações climáticas e às emissões de carbono. É uma explicação cómoda, politicamente aceitável, que parece pôr a culpa no ar. Mas a verdade está mais perto de nós — está no chão onde caminhamos.
Porque não é o céu que planeia cidades. Somos nós. E fomos nós que decidimos enterrar ribeiras em condutas, impermeabilizar solos, construir prédios em leitos de cheia e transformar terrenos de absorção em betão estéril. Não é a chuva que errou: fomos nós.
As alterações climáticas existem, sim. Mas elas apenas expõem, com maior brutalidade, a estupidez e irresponsabilidade do urbanismo moderno. Alagamentos não são uma fatalidade divina — são um monumento humano ao erro, ao lucro rápido, ao desprezo pela natureza e pela lógica do território.
A chuva é inevitável. O desastre é opcional. O erro não cai do céu — nasce do chão que decidimos cimentar.
Mas é mais fácil culpar as nuvens do que assumir os crimes de planeamento. E assim seguimos, repetindo tragédia após tragédia, como se o problema fosse o carbono no ar, quando na verdade é a corrupção e a incompetência no solo.
Artigo da série Contra o Teatro da Mediocridade, publicado em Fragmentos do Caos.
Coautoria: Francisco Gonçalves & Augustus Veritas