Contra o Teatro da Mediocridade: Manual de um Consultor do Banco de Portugal

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Um consultor do Banco de Portugal é, em teoria, alguém que aconselha.
Na prática, muitas vezes aconselha-se… a não se cansar.

Funções principais de um consultor do Banco de Portugal:

  1. Aquecer cadeira de couro — função vital, sobretudo em dias frios.
  2. Conferir relatórios já escritos e acrescentar uma nota sábia: "Concordo".
  3. Participar em reuniões onde ninguém decide nada, mas todos justificam o ordenado.
  4. Recordar aos mais novos que já foi ministro, governador ou doutor de prestígio.
  5. Garantir continuidade institucional: porque sair da casa seria um ato de… ousadia.
  6. Evitar sobressaltos: de preferência não pensar demasiado, não vá alguém confundir com trabalho.

Remuneração: generosa, como convém a quem carrega o peso do silêncio produtivo.
Horário: flexível, que a sabedoria não tem ponto.
Responsabilidade: nula, pois as decisões são sempre colegiais (o que em português significa "ninguém é culpado").

E assim, no teatro da mediocridade, o consultor cumpre a sua missão maior: provar que em Portugal há empregos onde a única função é não fazer nada — e ainda assim fazer parte de tudo.


Publicado em Fragmentos do Caos — Série Contra o Teatro da Mediocridade

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