O que é (e o que não é) um genocídio: Israel e Gaza no banco da lucidez

Francisco Gonçalves
Setembro de 2025


"Genocídio": uma palavra com um peso histórico terrível

Desde o Holocausto nazi contra os judeus europeus, passando pelo massacre dos tutsis no Ruanda ou o extermínio dos armênios pelo Império Otomano, o termo genocídio carrega consigo uma carga histórica, moral e legal avassaladora.

Mas nas ruas, nas redes sociais e mesmo nos palcos diplomáticos, a palavra tem sido usada de forma abusiva e politizada, especialmente no contexto da guerra entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza.


O que diz o Direito Internacional?

A definição formal de genocídio vem da Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio (1948):

"Qualquer ato cometido com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso."

Inclui:

  • Homicídios sistemáticos
  • Causar danos físicos ou mentais graves
  • Impor condições de vida destrutivas
  • Impedir nascimentos
  • Transferência forçada de crianças

O que distingue o genocídio de outros horrores de guerra é a intenção deliberada de aniquilar um povo pelo que ele é.


Israel e Gaza: a situação à lupa

Desde o ataque terrorista do Hamas em 7 de Outubro de 2023, em que mais de 1.200 israelitas foram mortos e centenas raptados, Israel respondeu com uma ofensiva militar de larga escala sobre Gaza.

Os números de mortos civis são chocantes. O sofrimento humanitário é real. Mas isso, por si só, não constitui genocídio.

Israel afirma actuar contra o Hamas, que:

  • Governa Gaza desde 2007 sem eleições
  • Se esconde entre civis
  • Utiliza escolas, hospitais e mesquitas para arsenais
  • Tem como objectivo declarado a destruição de Israel

Israel, por sua vez:

  • Afirma visar combatentes
  • Cria corredores humanitários (embora nem sempre eficazes)
  • Notifica ataques com antecedência

A banalização do termo "genocídio"

Muitos usam a palavra "genocídio" para expressar uma emoção justa — a revolta perante o sofrimento humano. Mas isso não pode substituir o rigor legal e histórico.

A banalização do termo retira peso aos verdadeiros genocídios.

  • Não há câmaras de gás
  • Não há campos de extermínio
  • Não há provas de intenção sistemática de erradicar o povo palestiniano

E o Tribunal Internacional de Justiça?

A África do Sul levou um caso contra Israel ao TIJ, acusando-o de genocídio. O processo foi aceite para análise, mas ainda não há decisão de mérito. A maioria dos peritos em direito internacional considera fraca a argumentação jurídica da acusação.


Conclusão

Israel está envolvido numa guerra dura, sangrenta e trágica. Muitos civis inocentes morreram e o sofrimento do povo de Gaza é incontestável. Mas genocídio é algo diferente.

Usar essa palavra de forma leviana é perigoso.

  • Desinforma.
  • Distorce a verdade histórica.
  • Enfraquece a luta contra os verdadeiros genocidas.

Devemos exigir responsabilidade, investigação internacional e apoio humanitário. Mas também devemos preservar o sentido das palavras. Porque, como dizia Orwell, "à medida que a linguagem se corrompe, a civilização vacila".


"O sofrimento humano deve comover, mas não deve ser usado como arma de propaganda."

Francisco Gonçalves

Publicado originalmente em Fragmentos do Caos

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