Autárquicas: Um teatro de personagens da "mesmice"

📌 Box de Factos
As autárquicas aproximam-se. O teatro político repete-se em palco, enquanto o país fenece e o povo, cansado, adormece.
O Teatro das Autárquicas: Entre a Farsa e a Tragédia
As eleições autárquicas aproximam-se. Nas televisões, sucedem-se debates, entrevistas e confrontos que, mais do que esclarecer, parecem repetições de uma peça já gasta. O palco é o mesmo, os atores são sempre os mesmos, apenas com o guarda-roupa ligeiramente renovado. O guião? Populismo, acusações mútuas e promessas que já ninguém leva a sério.
O povo, cansado, assiste a esta representação com indiferença. Muitos desligam a televisão, outros bocejam, e a maioria resigna-se: vota sem convicção ou, pura e simplesmente, abdica de votar. O torpor instalou-se como uma névoa densa que cobre o país inteiro.
O Interior: Cativo das Clientelas
Nas autarquias do interior, a realidade é ainda mais crua. A política local não é espaço de visão ou de estratégia, mas de favores e de ligações familiares. Quem manda é primo de quem, quem entra é cunhado de fulano, quem ganha o concurso é amigo de sicrano. Assim se perpetuam redes de poder que não servem a comunidade, mas apenas a si próprias. Enquanto isso, vilas e aldeias definham: escolas fecham, serviços públicos rareiam, os jovens partem.
O Ciclo dos Quatro Anos
A política portuguesa vive aprisionada ao calendário eleitoral. As medidas são pensadas em função do próximo sufrágio, não da próxima geração. O que interessa é inaugurar rotundas, levantar placas, anunciar investimentos que raramente saem do papel. Fala-se muito de futuro, mas governa-se sempre para o curto prazo. É um país que vive como um inquilino sem projeto: arranja a casa só até à próxima renda, sem nunca a restaurar para durar.
O Povo que Dorme
A tragédia maior, porém, é a do povo. Um povo que já não acredita, já não exige, já não se revolta. Um povo que aceitou a mediocridade como normalidade, a corrupção como inevitável, a promessa vã como moeda corrente. Como quem se refugia no sono para escapar à dor da vigília, Portugal parece adormecido. Mas, ao contrário dos contos de fadas, não virá príncipe algum para o despertar.
Epílogo: A Vela que se Apaga
9O país assemelha-se a uma vela esquecida: arde cada vez mais fraca, consumida pelo tempo, pelo desinteresse e pela falta de coragem. O teatro continua, os atores mudam de posição, mas a plateia já não tem forças para aplaudir nem para vaiar.
Portugal precisa de mais do que eleições — precisa de despertar. Mas quem ousará abanar o povo adormecido? Quem terá a coragem de transformar a farsa em renovação?
Artigo da Autoria de Francisco Gonçalves in Fragmentos do Caos.