O Maior Preconceito: A Pobreza

por Francisco Gonçalves

Excerto:
Não é a cor da pele. Não é o sotaque. Não é o país de origem.
O que mais se odeia em Portugal — e no mundo — é a pobreza.
Ser pobre é carregar um estigma. É ser invisível, desprezado, temido, humilhado.
A verdadeira xenofobia é contra o miserável.

Hipocrisias lusas e a estética da abundância

Muito se fala — com dedos em riste e indignações morais — sobre racismo, xenofobia, machismo, homofobia.
Mas há um ódio silencioso, hipócrita e transversal que atravessa todas essas lutas:
O ódio à pobreza.

Em Portugal, não se trata mal alguém por ser africano ou cigano apenas — trata-se mal porque é pobre.
Porque veste mal. Porque cheira à fábrica. Porque mora no bairro. Porque não tem carro. Porque não janta fora. Porque não sorri com dentes brancos.

Somos um povo pobre que aprendeu a odiar o espelho.

O horror ao "pobre de pedir"

O português médio aceita melhor um milionário arrogante do que um pedinte educado.
Despreza o sem-abrigo, mas idolatra o banqueiro aldrabão.
Não porque acredite na meritocracia — mas porque tem pavor de se ver ali, na sarjeta, no degrau mais baixo.

O pobre é o fantasma social de todos.
É o que nos lembra o que podemos vir a ser. E como o medo paralisa, atira-se pedra.

A pobreza como crime sem julgamento

Ser pobre em Portugal é ser suspeito à partida.
Suspeito de preguiça. Suspeito de incompetência. Suspeito de "não querer trabalhar".

O sistema social é burocrático com o pobre, mas complacente com o ladrão engravatado.
Pedir ajuda é humilhante. Viver com pouco é visto como falha de caráter.

A pobreza, no fundo, é tratada como um crime — mas sem advogado de defesa.

Ostentação: o novo patriotismo

Vivemos numa era onde a aparência vale mais do que a decência.
O que interessa é ter — não ser.
O carro, o relógio, o telemóvel, o restaurante, a selfie — tudo é usado como escudo contra a vergonha de não ter nada.

Somos um país pobre, mas fingimos ser ricos com crédito ao consumo e vaidade no Instagram.

Conclusão amarga

Enquanto não aceitarmos a pobreza como uma realidade social e humana — e não como uma falha pessoal — vamos continuar a ostracizar os que menos têm.

O combate ao preconceito começa por aqui:
Reconhecer que a maior exclusão é a do pobre.
E que um país que despreza os seus mais frágeis, está condenado a definhar moralmente — mesmo que tenha superavits.

"A verdadeira xenofobia é contra quem nada tem.
O pobre não é bem-vindo nem na esquerda, nem na direita — só nos discursos de ocasião."

Artigo autoria de 📖 Francisco Gonçalves

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