A Europa Tecnológica que já foi

Da Glória ao Esquecimento: Como a Europa Perdeu a Guerra Tecnológica
Francisco & Augustus ✨ · Fragmentos do Caos
📦 Box de Factos
- Décadas de 70-80: ICL, Bull, Olivetti, Siemens, Philips dominavam o hardware europeu.
- GSM foi uma das raras vitórias globais europeias.
- Anos 90-2000: rendição progressiva a IBM, Microsoft, Intel, Google e Amazon.
- Hoje: Europa depende de chips asiáticos e de clouds americanas.
Anos 70: A Glória
No coração da revolução digital, a Europa era palco de gigantes: ICL no Reino Unido, Bull em França, Olivetti em Itália, Siemens na Alemanha e Philips na Holanda. Universidades fervilhavam com linguagens e lógicas matemáticas, e nas telecomunicações o Velho Continente dava cartas com X.25 e ISDN. Era o tempo em que ainda se acreditava que Lisboa podia dialogar com Londres em pé de igualdade tecnológica.
Anos 80: O Abalo
O IBM PC, lançado em 1981, criou um standard global. A Europa, em vez de unir esforços, fragmentou-se em soluções nacionais. Olivetti tentou resistir, a ICL apostou no DRS20, mas o mercado não perdoou. A vitória do GSM em 1987 foi exceção, não regra. A maré já estava a virar, e do outro lado do Atlântico a maré era de tsunami.
Anos 90: A Capitulação
Com a internet comercial, o golpe final: nenhum "Google" nasceu aqui. A ICL foi engolida pela Fujitsu, a Olivetti virou sombra, a Bull sobreviveu por transfusão estatal. Microsoft Windows tornou-se padrão em cada secretária europeia, e o Vale do Silício passou a ser o Olimpo dos deuses digitais. A Europa? Um mero espectador de segunda fila.
Anos 2000: A Era da Dependência
A cloud nasceu nos EUA. A Europa não construiu alternativa. Intel e AMD ditavam chips, Taiwan e Coreia ganhavam a produção. Só a SAP resistia como exceção alemã. Nas telecomunicações, Nokia e Ericsson ainda brilhavam, mas já com a sombra da Huawei a crescer no horizonte. Os políticos europeus falavam de inovação, mas as startups eram vendidas — Skype, DeepMind — como se fossem curiosidades descartáveis.
Anos 2010-2020: A Rendição Silenciosa
Os gigantes americanos consolidaram o domínio: Google, Facebook, Amazon, Apple, Microsoft. A China emergiu com a sua própria constelação digital. A Europa criou leis, mas não tecnologia. GAIA-X, a "cloud soberana", ficou atolada em comissões e powerpoints. Enquanto os outros voavam, nós discutíamos regulamentos.
Hoje: A Irrelevância
Inteligência artificial? Made in USA ou China. Chips? Taiwan e Coreia. Fabricantes de hardware europeus? Zero. Campeões de software? Poucos — SAP, Spotify e mais uma mão-cheia. A Europa fala em soberania digital, mas ajoelha-se perante clouds estrangeiras. O continente que inventou o futuro tornou-se dependente do presente dos outros.
A União Europeia parece viver num paradoxo: fala constantemente de "soberania digital", "autonomia estratégica" e "indústria 4.0"… mas continua dependente em quase todas as áreas críticas. É como se Bruxelas confundisse legislar com inovar. Regulamentos temos de sobra — RGPD, DSA, DMA, diretivas e comissões para todos os gostos — mas quando se olha para a produção concreta, os campeões tecnológicos não estão cá. O que a UE ainda não entendeu: Soberania não se decreta, constrói-se. Precisa de fábricas de chips, clouds próprias, IA de ponta — não apenas relatórios. A burocracia mata o timing. No digital, perder 2 anos em comissões equivale a perder uma década de competitividade. Os fundos europeus são mal orientados: muito vai para consultoras e projetos-piloto que nunca escalam. Unidade real falta: cada país defende a sua "indústria nacional", mas nenhum sozinho consegue rivalizar com EUA ou China.
O Caminho de Regresso (se houver coragem)
Ainda há tempo — mas pouco. Um DARPA europeu, chips próprios, IA, cibersegurança, quântica. Universidades que gerem startups, não só papers. Airbus mostrou que a Europa consegue unir-se quando quer. Falta fazer o mesmo no digital, com urgência, sem medo e sem burocracia. Porque um continente que se habitua a ser consumidor deixa de ser civilização criadora.
"A Europa da União é o maior paradoxo do nosso tempo: nasceu para unir, mas vive dividida. Une-se em regulamentos, mas fragmenta-se em projetos. Constrói tratados, mas não constrói sonhos. Enquanto isso, outros continentes ousam e avançam, enquanto o nosso se perde na arte estéril do compromisso. A Europa só terá futuro quando descobrir que a verdadeira união não está no papel, mas na ousadia de criar em conjunto."