A politiquice do costume

A Grande Politiquice Nacional
- Tema: Linguagem vazia como escudo — acusações de "politiquice" para não responder ao essencial.
- Diagnóstico: Teatro mediático permanente: fala-se da forma, foge-se ao conteúdo.
- Efeito: Cidadão como espectador pagante do circo — bilhete caro, final sempre adiado.
É quase comovente: um político, rodeado de microfones, a denunciar… a politiquice. É como um peixe a queixar-se da água, ou um padeiro indignado com o cheiro a pão. A palavra serve de cortina de fumo: quando faltam respostas concretas, acusa-se o adversário de politiquice; quando se falha uma promessa, chama-se politiquice às críticas; quando a realidade aperta… adivinha? É politiquice.
Deste modo, a politiquice tornou-se matéria-prima da nossa democracia performativa: fala-se dela para não se falar de mais nada. É um espelho onde todos acusam todos — mas ninguém reconhece o próprio reflexo.
No fecho do espetáculo, o povo — esse, sempre fora da encenação — continua a pagar bilhete para assistir ao circo. Entre tambores e serpentinas, anunciam menos conversa e mais ação… enquanto prolongam a conversa no horário nobre.