O Paradoxo da governação de Portugal

O Paradoxo Português: da Industrialização do Estado Novo à Corrupção Democrática
O Estado Novo foi ditadura abominável — mas teve projeto industrial e disciplina técnica. A democracia trouxe liberdade — mas deixou que a corrupção e a incompetência devorassem o futuro. Entre estes dois extremos, ergue-se o paradoxo português.
O lado obscuro e a disciplina produtiva
O Estado Novo tolheu liberdades, perseguiu opositores e semeou medo. Ainda assim, impôs uma lógica de obra: siderurgia nacional, metalomecânica forte, Sorefame a fabricar e exportar composições ferroviárias, Lisnave e Setenave com reputação internacional, Tramagal a montar veículos pesados, ferrovia moderna a ligar pessoas e mercadorias. Socialmente atrasado, sim — mas tecnicamente competente e com ambição produtiva.
A promessa de Abril e o desperdício
Com o 25 de Abril, a liberdade encheu as ruas — e o país abriu-se ao mundo. Porém, confundiu-se abundância de direitos com ausência de deveres. Em vez de estratégia, euforia; em vez de indústria, liquidação de ativos; em vez de ferrovia, autoestradas e dependência externa. A soberania económica foi negociada em troca de um brilho de modernidade que se gastou depressa.
Cinquenta anos de democracia: retrato cru
Chegaram milhares de milhões da Europa ao longo de décadas. O que podiam ter sido indústria, inovação e futuro virou projetos de fachada, adjudicações opacas, obras sem retorno. O Estado negociou mal com privados, a dívida cresceu, a soberania encolheu. Temos infraestruturas vistosas — mas pouca base produtiva, salários baixos e pobreza persistente.
Justiça que não protege
Meio século depois, a justiça cível continua lenta, cara e desigual: labirinto para os fracos, escudo para os fortes. Em democracia, isto não é um detalhe — é uma afronta à dignidade e um incentivo à corrupção.
Competência vs. corrupção
O paradoxo é brutal: na ditadura, menos liberdade — mas projeto industrial e disciplina técnica; na democracia, mais liberdade — mas menos visão, mais inércia e corrupção. A liberdade é irrenunciável; o que tem faltado é governo competente e uma cultura de responsabilização real.
• Instituições íntegras: transparência, avaliação e consequências.
• Justiça célere: prazos, meios e simplificação radical.
• Estratégia produtiva: ferrovia, energia e indústria tecnológica exportadora.
Conclusão
Chegámos a 2025 livres, mas frágeis. A democracia só se cumpre com ética pública, competência e projeto. Sem isso, seremos um país de memória rica e futuro adiável — um paradoxo que não podemos aceitar como destino.