Tump uma ajuda inesperada para Putin?

Donald Trump está a ajudar a Rússia a atingir objetivos?
Quando o presidente dos EUA governa por impulso, as ditaduras respiram. Vladimir Putin está confortável: a retórica inflamada não se traduz em custos reais, as "ameaças" ficam por cumprir e o tempo trabalha a favor do Kremlin. O vazio que Donald Trump abre no sistema internacional é a oportunidade que Moscovo e Pequim esperavam.
Impunidade como método
Para Moscovo, a mensagem é simples: a agressão à Ucrânia não implica um preço intolerável. As sanções fendem-se nas exceções, a Europa discute-se a si própria, e Washington oscila entre bravatas e recuos. Ao proclamar que "resolveria a guerra em 24 horas", Trump envia um sinal de fraqueza — não de força: aceitar concessões rápidas à custa de Kyiv.
O vazio estratégico americano
A maior arma dos EUA sempre foi a previsibilidade. Aliados confiavam, adversários calculavam custos. Hoje, a imprevisibilidade preside: a NATO é questionada, a diplomacia é desautorizada em público, a Casa Branca fala por impulsos. Num xadrez assim, quem tem plano vence — e Moscovo tem-no.
• Desalinha alianças e encoraja agressões "testes".
• Sobe o prémio de risco global e encarece a defesa de democracias.
• Converte a Ucrânia em moeda de troca, corroendo normas internacionais.
China à espreita, pragmática na oportunidade
Pequim não precisa de aplaudir Moscovo. Basta-lhe capitalizar o desgaste ocidental: reforça cadeias de comércio no Sul Global, expande acordos em yuan, posiciona-se como "mediadora responsável". Enquanto Trump mina a confiança na liderança americana, Xi Jinping preenche o vazio com paciência milenar e pragmatismo frio.
Um mundo mais perigoso
O resultado não é apenas vantagem russa ou chinesa — é a erosão da arquitetura de segurança. Sem âncora americana fiável e com uma Europa fragmentada, emerge um multipolarismo sem travões, onde cada potência joga pelo interesse imediato. O risco de escalada sobe; a paz, essa, torna-se um reflexo frágil no retrovisor.
Conclusão
Trump não precisa "apoiar" Putin para lhe ser útil. A incoerência bastará. Ao desvalorizar alianças e prometer soluções milagrosas, enfraquece a dissuasão e legitima a audácia dos autocratas. E, no horizonte, a China observa — serena — a transformação do orgulho americano no seu calcanhar de Aquiles.