O homem dos 75.800 euros

Em novembro de 2023, a Polícia Judiciária entrou no gabinete do então primeiro-ministro António Costa, no âmbito da Operação Influencer.
Entre os alvos estava Vítor Escária, chefe de gabinete de Costa.
Na busca ao seu gabinete em São Bento foram encontrados 75.800 euros em envelopes, valor cuja origem nunca foi cabalmente explicada.
Escária tornou-se arguido em dois processos: tráfico de influências e vantagem indevida.

A imagem pública ficou marcada: o "homem dos envelopes".

A ascensão académica

Apesar do estatuto de arguido, em setembro de 2025, o Instituto Superior de Gestão (ISG) — ligado ao Grupo Lusófona — anunciou Escária como o novo diretor.
Na nota oficial, o ISG fala em "um novo capítulo, com energia renovada, reforçando a sua missão de ensino superior de excelência".
O contraste entre discurso e realidade é gritante: entregar a liderança de uma instituição académica a alguém manchado por suspeitas graves é um ato de normalização da opacidade.

O percurso até aqui

  • Economista de formação, doutorado pela Universidade de Évora, Escária foi professor e investigador em políticas públicas.
  • Passou por funções de consultoria e assessoria, acumulando influência junto dos governos socialistas.
  • Em 2015, foi convidado para o núcleo duro de António Costa. Tornou-se chefe de gabinete em 2019, posição de poder central: controlava agendas, media acessos e articulava decisões estratégicas.
  • Em 2023, viu o seu nome no epicentro da maior crise política recente, a Operação Influencer, que levou à demissão de Costa.

O caso dos envelopes

O episódio dos 75.800 euros permanece envolto em sombras.
Escária nunca conseguiu apresentar uma explicação convincente para o montante. A defesa sustentou que se trataria de poupanças pessoais — mas o formato (envelopes em gabinete oficial) levantou suspeitas de pagamentos ilícitos.
O Ministério Público mantém-no como arguido.

A hipocrisia da nomeação

A ida para o ISG é um sinal do estado da ética pública em Portugal:

  • Enquanto se exige ao povo que "poupe melhor" e que viva com salários que mal chegam ao fim do mês, figuras ligadas a escândalos encontram sempre uma cadeira dourada à espera.
  • A academia, que deveria ser templo da integridade e do mérito, presta-se aqui a servir como escudo para reputações abaladas.
  • O "sistema" revela-se em pleno: políticos caídos não caem, apenas transitam para novos cargos, sustentados por redes de influência.

O retrato maior

O caso Escária não é exceção: é síntese de uma doença estrutural.

  • Captura da academia: universidades e institutos privados usados como refúgios políticos.
  • Impunidade simbólica: ser arguido em processos de corrupção não impede promoções institucionais.
  • Desvalorização da cidadania: o cidadão comum é chamado de "mau poupador", enquanto figuras suspeitas são recompensadas.

Conclusão

O problema não é apenas Vítor Escária — é a engrenagem que o protege.
Enquanto Portugal se afunda em iliteracia, baixos salários e precariedade, a elite move-se como se nada fosse.
Um homem dos "75.800 euros em envelopes" assume a direção de um instituto de gestão.
É mais do que ironia: é um insulto à inteligência coletiva.

"Em Portugal, a vergonha deixou de ser critério de exclusão.
Passou a ser pré-requisito para subir de patamar."

✍️ Francisco Gonçalves & Augustus Veritas

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🕰️ Linha do Tempo – Vítor Escária

1990s–2000s

Forma-se como economista, doutorado pela Universidade de Évora. Inicia carreira académica e de investigação em políticas públicas.

2015

Integra o núcleo duro de António Costa como assessor próximo.

2019

É nomeado chefe de gabinete do Primeiro-Ministro, função de poder central no Governo.

Novembro 2023

No âmbito da Operação Influencer, a Polícia Judiciária encontra 75.800 € em envelopes no seu gabinete. Torna-se arguido por suspeitas de tráfico de influências e vantagem indevida.

Setembro 2025

Apesar de arguido, é nomeado diretor do Instituto Superior de Gestão (ISG), instituição ligada ao Grupo Lusófona.

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