💶 Salários baixos, poupança impossível: a hipocrisia do discurso oficial

O discurso oficial

O novo presidente da ASF, Gabriel Bernardino, afirmou no Parlamento que os portugueses "poupam mal". O problema, segundo ele, não é apenas de quantidade, mas de estratégia: tratamos a poupança como curto prazo quando devíamos pensar em horizontes de 30 ou 40 anos.

A realidade nua e crua

Mas há uma omissão gritante neste discurso: como poupar bem com salários miseráveis? A maioria dos trabalhadores portugueses leva para casa menos de 1.200 € líquidos por mês. Depois de pagar renda, energia, alimentação e transportes, o que sobra para investimentos de longo prazo?

Em países como a Alemanha ou a Holanda, os salários líquidos ultrapassam os 2.500 € e 3.000 € respetivamente. Aí sim, sobra margem para pensar em fundos de investimento, poupança-reforma ou produtos financeiros sofisticados. Em Portugal, sobra pouco mais que moedas contadas no fim do mês.

A armadilha da narrativa

O discurso de que "os portugueses poupam mal" é uma narrativa que transfere a responsabilidade para o povo. Esconde o essencial: não é apenas falta de literacia financeira, é falta de poder de compra. A precariedade salarial obriga milhões a viver em modo de sobrevivência, sem espaço para construir futuro.

O que deveria ser dito

• Portugal precisa de salários dignos e alinhados com a produtividade.
• É urgente reduzir a carga fiscal sobre rendimentos baixos e médios.
• O acesso a produtos de poupança e investimento deve ser simplificado e transparente.
• A literacia financeira deve ser ensinada nas escolas, mas acompanhada de condições materiais para ser praticada.

"Quem vive a contar os trocos não pode sonhar com investimentos.
A poupança não nasce da vontade, mas da abundância que o trabalho deveria dar e não dá."