Entre o Sonho de 7 Mil Milhões e a Realidade de 5 Mil Euros

🟢 Factos Rápidos

- Local: Zona Industrial do Pego (Abrantes) - Empresa: EDC ONE, Lda. (fundada em 2024, capital social 5.000 €)

- Investimento anunciado: 7.000.000.000 € até 2030

- Emprego prometido: 450 diretos + 700 indiretos

- Incentivos aprovados pela Câmara: 16,2 M€ em isenções fiscais


O país vibra sempre que ouve a palavra "data center". É a promessa de modernidade, de empregos qualificados, de um futuro ligado ao digital. Agora, a Câmara de Abrantes aprovou benefícios fiscais generosos para a EDC ONE Lda., uma empresa criada há pouco mais de um ano, com um capital social de… cinco mil euros.

Eis a contradição que merece atenção: uma microempresa, sem histórico público no setor tecnológico, promete um investimento equivalente ao PIB anual de vários países africanos. Sete mil milhões para erguer um centro de dados junto à Central do Pego — antiga zona marcada pelo carvão e pela falência da RPP Solar.


Entre Sines e Pego

O autarca fala em "nova dinâmica", comparando o projeto ao campus de Sines, que efetivamente já tem consórcios sólidos, hyperscalers e investidores internacionais. Mas no Pego, até agora, não se conhece um único parceiro, cliente âncora ou fundo financeiro que dê corpo a esta ambição.

Um projeto desta dimensão não se ergue de anúncios. Precisa de energia contratada (centenas de megawatts), de clientes tecnológicos (AWS, Google, Microsoft, Meta…), de engenheiros e EPCs já em campo. Nada disto foi tornado público.


O Perigo das Ilusões

Os incentivos fiscais já foram aprovados. O discurso político já se fez. Mas falta o essencial: provas concretas de capacidade financeira e técnica.

O risco? Vender aos cidadãos e à região uma promessa sem lastro. Dar palco a uma narrativa grandiosa, que pode acabar por ser apenas mais um balão de ar quente, como tantos que Portugal já conheceu no passado.


A Cidadania que Pergunta

Não se trata de ser contra o progresso ou o investimento. Pelo contrário — precisamos deles como de pão para a boca. Mas um país maduro deve exigir transparência e responsabilidade:

  1. Quem são os investidores que asseguram os 7 mil milhões?
  2. Quem vai ocupar a capacidade do data center?
  3. Existe parecer da REN sobre a energia disponível?
  4. Há cronogramas de obra, licenciamento ambiental e contratos de engenharia?

Sem estas respostas, tudo não passa de um enredo demasiado doce para ser engolido sem sal.


Conclusão

Portugal não pode viver apenas de anúncios e powerpoints. Precisa de realidade palpável: betão, cabos, servidores, clientes e salários pagos ao fim do mês.

Até lá, o Data Center do Pego é, por agora, uma utopia de 7 mil milhões em cima de uma microempresa de 5 mil euros. E cabe-nos a nós, cidadãos atentos, não confundir fruta fresca com salada demasiado temperada.


✍️ Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen (c)

Imagem cortesia de OpenAI (c)
📌 Publicado em Fragmentos do Caos


Nota: Esta notícia teve por base o Jornal Médio Ribatejo e uma apresentação da Câmara de Abrantes que descreveu este projecto. O município afirma que este projeto se enquadrada num Projeto de Interesse Nacional (PIN) e implicará um investimento de 7 mil milhões de euros até 2030, com a criação prevista de 450 postos de trabalho diretos e 700 indiretos.

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