EUA : Ainda a Maior potência mundial ?

EUA em declínio? Ou mundo em competição multipolar?
Os Estados Unidos não "caem"; a margem é que estreita. A China sobe por escala industrial e tecnologia; a Rússia testa limites à bomba. O tabuleiro deixou de ser um hiper-pólo para se tornar num multipolarismo competitivo. A questão para a Europa é simples: vamos ser objeto do jogo, ou jogador?
1) O choque desta madrugada não é exceção — é método
Na madrugada de 7 de setembro de 2025, a Rússia lançou a maior ofensiva aérea da guerra: mais de 800 drones e mísseis, com o edifício do Governo em Kyiv a arder pela primeira vez. Isto não é busca de paz, é coerção estratégica e desgaste energético-social.
2) Os números frios do poder
- Economia: em 2025 (nominal), EUA ≈ $30,5 biliões; China ≈ $19,2 biliões. Em PPP, a China supera os EUA (≈ $40,7 vs $30,5). Escala importa, mas projeção externa também.
- Moeda e finanças: o dólar mantém ~57,7–57,8% das reservas globais; o yuan ronda ~3% dos pagamentos via SWIFT (5.º–6.º lugar). O "desdolarizar" existe mais em manchetes do que em balanços.
- Defesa: 2024 — EUA $997 mil M; China $314 mil M; Rússia $149 mil M. Em 2025, a NATO projeta todos os aliados a cumprir o mínimo de 2% do PIB e fixou novo patamar para 2035 (5% no total, com 3,5% "core").
- Energia: os EUA bateram recordes de petróleo (13,58 Mb/d em junho) e são o maior exportador de LNG; energia barata + exportável é alavanca geopolítica.
3) Onde os EUA perdem tração
Dívida/juros elevados encarecem a potência; cadeia industrial levou duas décadas a delocalizar e não se reconstitui numa noite (navios, munições, embalagem avançada de chips). E há sinais políticos ambíguos — pedir mais à Europa enquanto corta programas cria vácuos táticos. Não é fim de ciclo; é custo de transição.
4) Onde continuam muito fortes
- Alianças: rede sem paralelo — NATO agora com Finlândia e Suécia —, AUKUS, Japão, Coreia, Austrália, Quad. Moscovo e Pequim têm parceiros; não têm ecossistema equivalente.
- Tecnologia e capital: liderança em IA e chips de topo; mercados financeiros profundos; moeda-reserva e sanções eficazes quando coordenadas.
- Energia e logística: petróleo recorde, LNG dominante, marinha e aviação de projeção global — dissuasão que conta em dias, não em décadas.
5) China: ascensão real, travões reais
O país avança em indústria, exportações de tecnologias "meio-duro" (VE, painéis, turbinas), finança Belt & Road e cresce ~4,8% em 2025. Mas a demografia encolhe pelo 3.º ano e o imobiliário continua frágil (Evergrande liquidada). A ambição externa existe; o lastro interno ainda pesa.
6) Rússia: poder de negação, não poder de criação
Consegue impor custos (energia, destruição, ciber, desinformação) e ameaça nuclear. Mas sem o motor chinês, não reordena o sistema. A sua estratégia é forçar acordos frágeis e testar fissuras na NATO/UE.
7) Europa: de consumidor de segurança a produtor de poder
O continente acordou. Metas de 2% generalizadas, novo objetivo 5% em 2035 e aceleração industrial (alvo: 2 milhões de munições/ano até final de 2025). Ainda assim, a chave é cadência: menos "picos", mais linha de produção. A equação da paz passa por escudo aéreo, energia resiliente e alcance profundo que corte a logística de Moscovo.
8) Três cenários para 2025–2030
- Dissuasão firme (base): NATO cumpre 2%/sobe, UE consolida munições e defesa aérea, Ucrânia estabiliza linhas e negocia em força. Mundo: multipolar competitivo, mas com regras.
- Acomodação fraca (negativo): corte de apoio e "cessar-fogo" sem garantias; regressamos ao erro de Budapeste. Resultado: mais guerra, só mais tarde.
- Escalada controlada (alto risco, alta recompensa): libertar totalmente o alcance ucraniano sobre petróleo/logística russos, sob guarda de gestão de escalada. Pode abreviar a guerra — ou testará nervos nucleares.
9) O que fazer já — Europa e Portugal
- Ar: Patriot/IRIS-T/SAMP-T + munições; integração de radar civil-militar; coberturas de subestações e centros urbanos.
- Chão: produção europeia com contratos plurianuais (munições, drones, EW, defesa C-UAS); metas mensais auditáveis.
- Longo alcance: libertar Kiev para cortar refinarias, nós ferroviários e depósitos em profundidade.
- Energia: escudos físicos + geração distribuída; menos gás russo; mais LNG e interligações.
- Portugal: 2% do PIB de facto (não criativo), linha de drones/C-UAS com indústria local, ciberdefesa integrada na administração pública, reservas estratégicas de componentes críticos.
10) Epílogo (com uma pitada de poesia)
A pergunta não é "se os EUA caem", é "se o Ocidente mantém cadência e propósito". A paz é ponte: constrói-se com aço, energia e alianças — e depois, sim, passa por cima a diplomacia. Até lá, serenidade quente: o que trava mísseis são mísseis; o que protege democracias é capacidade.
Os números frios do poder
- Economia: 2025 (nominal) — EUA ≈ $30,51 biliões; China ≈ $19,23 biliões (IMF WEO).
- Reservas: Q4 2024 — USD 57,8%, EUR 19,8%, RMB 2,18% (IMF COFER via Reuters). SWIFT (jun/jul 2025): RMB 2,88%.
- Defesa: 2024 — EUA $997 mil M; China $314 mil M; Rússia $149 mil M (SIPRI).



Artigo de investigação da autoria de Augustus Veritas in Fragmentos do Caos.
Notas e fontes principais :
* Maior ataque aéreo (7 set. 2025) e governo em Kyiv atingido.
* PIB 2025 (nominal & PPP) – IMF WEO (abr/jul 2025).
* Reservas globais (COFER) – USD ≈ 57,7–57,8%; RMB baixo.
* SWIFT – quota global do RMB ~3% (5.º/6.º lugar em 2025).
* Gastos militares 2024 (SIPRI).
* NATO: todos nos 2% em 2025; novo objetivo 5%/2035 (3,5% core).
* Energia EUA – recorde petróleo (junho 2025) e maior exportador de LNG (2024).
* UE munições: alvo 2 milhões/ano até final de 2025.
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