Paz verdadeira não é capitulação

Moscovo não quer conversações de paz — quer a capitulação de Kiev. A única linguagem que abre portas a uma negociação séria chama-se dissuasão.

Publicado em 7 de setembro de 2025 • Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen

Na madrugada de hoje, a Ucrânia sofreu o maior assalto aéreo desde o início da invasão: centenas de drones e mísseis lançados contra várias cidades, com o edifício do governo em Kyiv atingido pela primeira vez. Não é o gesto de quem procura um cessar-fogo, é a gramática crua de uma guerra de desgaste.

Esta escalada encaixa na lógica que o Kremlin vem repetindo: "paz" apenas se a Ucrânia renunciar à NATO e entregar territórios ocupados. Traduzindo: não negociação, mas imposição. Do outro lado, a Ucrânia resiste — e a Europa tem uma decisão civilizacional a tomar: ou assume a defesa da liberdade com capacidade industrial e militar à altura, ou normaliza a agressão como método de política externa no continente.

Ideia central: a paz não nasce de apaziguamentos; nasce do reconhecimento de limites. Primeiro, travar a agressão. Depois, negociar — com garantias, não com promessas.

Sete medidas para travar a agressão e abrir a porta à paz

  • Escudo aéreo já: acelerar entregas e munições para Patriot/IRIS-T/SAMP-T; proteger redes elétricas e centros urbanos.
  • Artilharia em cadência industrial: contratos plurianuais europeus para munição e fogos de contra-bateria; produção > consumo.
  • Domínio de drones + guerra eletrónica: enxames baratos (FPV/ISR) e sistemas anti-drone para cegar e saturar.
  • Alcance profundo: autorizar ataques ucranianos a logística, refinarias e nós ferroviários em profundidade — cortar o oxigénio operacional.
  • Resiliência energética: proteção de subestações, geração distribuída, peças de reposição pré-posicionadas; sanções finas ao petróleo/gás russo.
  • Base industrial europeia: metas vinculativas (≥3,5% do PIB em defesa "core" ao médio prazo), partilha tecnológica quando útil e menos burocracia.
  • Pressão legal e diplomática: manter a questão criminal no centro (deportação de crianças, raptos, ataques deliberados a civis) e isolar o regime nos fóruns internacionais.

Trump, a Europa e a psicologia da dissuasão

Quando líderes ocidentais relativizam compromissos de defesa coletiva, a mensagem vai direta ao agressor. A resposta europeia tem de ser inequívoca: mais meios, mais interoperabilidade, mais prontidão. Não para "entrar em guerra", mas para que a guerra pare.

Sem medo e sem raiva

Não precisamos de ódio para ser firmes. Precisamos de lucidez: a paz verdadeira é uma ponte construída por quem detém a margem da força. Enquanto essa margem pertencer ao agressor, a ponte não existe — há apenas um beco.

No fim, o que está em jogo não é só a integridade da Ucrânia: é a nossa capacidade europeia de dizer "basta" a quem confunde poder com direito. A História não é neutra; toma o partido de quem a escreve com coragem.

"Fragmentos do Caos" — por um futuro em que a força sirva a paz, e nunca o contrário.

Referências para este artigo:

Maior ataque aéreo da guerra (7 set. 2025: >800 drones/mísseis; edifício do governo em Kyiv atingido). "Condições" de Putin (14 jun. 2024 e reafirmações em 2025: renúncia à NATO + cedência de territórios). Mandado do TPI por deportação de crianças (mar. 2023). Trump e a dissuasão ("encorajar" a Rússia contra aliados inadimplentes — 10 fev. 2024). Meta de 2% (e discussão 3,5%/5%) na NATO (2025).

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