No Reino Unido, a vice-primeira-ministra esquece-se de um imposto numa casa. Descoberto o deslize, cai a espada da responsabilidade: demissão imediata.

Em Portugal, Camões acorda no túmulo, esfrega os olhos e pergunta: "Demissão? Por uma casa? Mas que loucura é esta?"

Cá, não seria apenas uma casa: seriam 55 imóveis, um escritório de advogados em plena atividade, uns terrenos herdados por favor e umas fundações culturais a servir de mealheiro. E, em vez de demissão, haveria: um cargo novo, um subsídio vitalício e uma condecoração presidencial com palmadinha nas costas.

"Ó pátria triste, onde a honra é luxo e a vergonha é rara ave! Se eu cantava heróis, hoje só cantaria… promotores imobiliários." — L. de Camões

Enquanto em Londres um governante cai por causa de um telhado, em Lisboa ergue-se um palácio de impunidade com tijolos de compadrio e cimento de esquecimento coletivo.

No fim, a diferença é simples: lá tropeça-se numa pedra de ética; cá navega-se gloriosamente em mares de lama. E o povo, entre um jogo e um festival, levanta a taça: "Viva! Este é dos nossos!"

E quando finalmente há queda, é por uma casca de banana — com indemnização e aplauso de pé.

Nota de contexto: Sátira inspirada pela notícia da demissão da vice-primeira-ministra britânica após polémica com imposto habitacional. Referência: PÚBLICO (05-09-2025).