O Mito da Inovação: O Tecido Empresarial Português Entre a Acomodação e o Medo

Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen

Nos relatórios oficiais, Portugal surge como um país em ascensão no ranking europeu da inovação. Somos apresentados como "fortemente inovadores", quase um exemplo de resiliência e modernidade. Mas esta é a narrativa para Bruxelas, embalada em gráficos coloridos e índices que servem mais para justificar fundos do que para refletir a realidade. A verdade nua e crua é outra: somos um país empresarialmente acomodado, conservador e avesso à mudança.

A ilusão estatística

Os números podem enganar: falam em 44,7 % de empresas "inovadoras" entre 2020 e 2022. Mas que inovação é esta? Muitas vezes trata-se de alterar um processo administrativo, instalar um software de prateleira ou rebatizar velhos produtos com nova embalagem. Chamam-lhe inovação, mas é apenas cosmética: um verniz sobre o imobilismo.

O vício da acomodação

Quando o negócio corre bem, a regra é simples: não se mexe. O conforto das margens asseguradas transforma-se em preguiça criativa. O risco é visto como ameaça, não como oportunidade. E assim, o país instala-se na lógica do "remendo", nunca da disrupção.

Subsídio-dependência

A maioria das empresas só ousa "inovar" quando há incentivos públicos a fundo perdido. Sem esse empurrão financeiro, as ideias ficam engavetadas. Criou-se uma cultura de dependência: em vez de visão estratégica, temos candidaturas a programas de apoio. Em vez de ambição, temos relatórios em PDF para agradar a comissões de avaliação.

Gestores do século passado

Persistem lideranças conservadoras, hierárquicas, avessas à crítica interna. O espírito criativo é abafado pelo medo de errar, e a meritocracia é sacrificada em nome da obediência. As empresas portuguesas ainda vivem demasiado presas ao "manda quem pode, obedece quem deve". Um estilo de gestão que mata a faísca antes de nascer a chama.

Exportamos cérebros, não inovação

Temos engenheiros brilhantes, investigadores de topo, criadores ousados. Mas não os conseguimos reter. Exportamos talento humano porque não exportamos valor acrescentado. O génio nacional emigra; ficam as empresas a repetir velhas fórmulas até à exaustão.


O retrato real

Por detrás do discurso oficial está o retrato cru: um tecido empresarial que prefere a segurança do ontem ao risco do amanhã. Que se acomoda quando o negócio corre bem e que treme de medo quando a mudança se impõe. Portugal continua a confundir modernização com inovação, cosmética com revolução, relatórios com futuro.

Não é a falta de talento que trava Portugal, é a falta de coragem. Enquanto não rompermos com a cultura do medo e da acomodação, continuaremos a viver de subsídios, embalados na ilusão de inovar.

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