Portugal Hoje: Educação, Literacia e o Desafio Digital

Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen

Alfabetização e Escolarização

Portugal atingiu, em 2021, uma taxa de alfabetização quase total — cerca de 99,8 % da população adulta sabe ler e escrever 1. A escolarização obrigatória cobre os sete anos do ensino básico (até aos 15 anos), seguida por três anos de ensino secundário, com um índice de participação que continua a subir 2.

Competências Adultas: Ler, Contar, Refletir

O inquérito PIAAC da OCDE revela que os adultos portugueses (16–65 anos) têm um desempenho médio abaixo da média dos países da OCDE nas áreas de literacia (235 vs. 260), numeracia (238 vs. 260) e resolução adaptativa de problemas (233 vs. 260) 3. Há também disparidades marcantes entre gerações: os mais velhos (55–65 anos) obtêm em literacia uma pontuação média 32 pontos inferior à dos mais jovens (25–34 anos) 4.

Literacia Digital

Segundo a ANACOM, em 2023, apenas 29,9 % da população entre 16 e 74 anos tinha competências digitais acima do nível básico — uma ligeira vantagem face à média europeia de 27,3 % 5. Ainda assim, 27,1 % estavam abaixo do básico, 26,0 % no básico, 2,7 % sem nível e 14,2 % nem sequer utilizava a Internet 6. As áreas mais fortes são Comunicação e Colaboração (80,7 %) e Literacia de Dados e Informação (72,4 %); as mais frágeis: Criação de Conteúdos Digitais (45,8 %) e Resolução de Problemas (43,7 %) 7. Regiões urbanas (Lisboa e Algarve) e grupos mais jovens/estudantes têm níveis superiores de literacia digital face às zonas rurais, idosos e grupos com menor escolaridade 8.

Reflexão Final

O retrato é paradoxal: Portugal ostenta uma quase total alfabetização, mas a qualidade da literacia funcional, numérica e tecnológica ainda exibe lacunas relevantes. O sucesso da economia digital depende agora de projetos como a introdução de computação no ensino básico e secundário, como o ensaiado pelo Projeto Minerva ou os pilotos K-12 recentes com dezenas de escolas e milhares de alunos 9. O futuro exige-nos investimentos ousados: não apenas em escolas, mas em formação crítica — para que sejamos não só letrados, mas cidadãos preparados para pensar, inovar e digitalizar o mundo.

A educação portuguesa sabe ler e escrever — mas carece de coragem para ensinar a pensar com olhos do século XXI.

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