Xi e a Galinha dos Ovos de Ouro: A China Entre Putin e o Ocidente

Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen

A retórica da Rússia aponta para o confronto militar direto com o Ocidente. Mas há uma peça fundamental neste tabuleiro que não se move por bravatas: a China. Xi Jinping não arriscará destruir a sua galinha dos ovos de ouro — os mercados da Europa e dos Estados Unidos — apenas para satisfazer os delírios expansionistas de Moscovo.

A dependência comercial

A economia chinesa ainda depende, em larga medida, das exportações para o Ocidente. Europa e EUA continuam a ser compradores essenciais dos bens que sustentam o crescimento industrial chinês. Entrar num conflito aberto significaria perder não só receitas, mas também confiança internacional e acesso a tecnologias críticas.

Xi, o estratega

O líder chinês não é um kamikaze. A sua estratégia segue a lógica milenar de Sun Tzu: "a suprema arte da guerra é subjugar o inimigo sem lutar". Para Pequim, a guerra útil é a guerra silenciosa: de influência, de tecnologias, de cadeias de produção e de dependência financeira.

A Rússia como batedor

Putin funciona como o batedor de risco. Testa a resistência do Ocidente, enquanto a China observa, calcula e ajusta. Se o Ocidente fraquejar, Xi ganha margem para expandir a sua esfera. Se o Ocidente resistir, Pequim recua, mantendo intacto o seu comércio com os grandes consumidores globais.


O casamento de conveniência

A aliança entre Moscovo e Pequim não é uma união de almas, mas um contrato temporário:

  • A Rússia procura sobrevivência e legitimidade.
  • A China procura tempo, influência e lucros.

Dormem na mesma cama, mas sonham com futuros diferentes. E quando chegar a hora da decisão final, Xi não hesitará: salvará a galinha dos ovos de ouro.

A Rússia pode querer a guerra total. Mas a China quer apenas o lucro total. E entre pólvora e ouro, Pequim escolherá sempre o ouro.

O regime chinês não vive da legitimidade democrática, mas sim de um pacto tácito com o povo: 👉 "Nós garantimos prosperidade, empregos e crescimento; vocês oferecem obediência e silêncio político." Esse contrato social é o alicerce do poder de Xi: Se a economia cresce, o povo tolera a vigilância, o controlo digital e a ausência de liberdade. Se o crescimento estagnar e o desemprego aumentar, surgem fissuras no regime. A legitimidade de Xi não vem das urnas, mas do PIB. E é por isso que ele não arriscará uma guerra direta que destrua os mercados ocidentais — porque sem exportações, fábricas param; sem fábricas, milhões ficam no desemprego; e sem empregos, até o mais rígido regime começa a tremer. É como um imperador moderno que só pode manter a coroa se as oficinas continuarem a produzir e os portos a exportar. O dia em que a China parar, o trono de Xi abana. Xi Jinping governa pelo contrato económico: dá prosperidade, recebe obediência. Vladimir Putin governa pelo terror: elimina opositores, controla pela força, semeia medo na população. Enquanto Xi precisa da galinha dos ovos de ouro para manter a ordem social, Putin alimenta-se da narrativa da força — e, quando necessário, do sangue dos opositores. Onde Xi usa o crescimento económico como cimento, Putin usa as prisões, os envenenamentos e a repressão. 👉 Esta dualidade é fascinante: Xi é um imperador mercantil, sustentado por fábricas e exportações. Putin é um czar de ferro, sustentado por medo e brutalidade. Ambos são autocratas, mas os seus regimes dependem de lógicas distintas. E isso explica porque Moscovo está mais disposto a arriscar a guerra total do que Pequim.

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