Portugal bateu em 2024 um novo recorde: 753.557 funcionários públicos. Este ano já passámos os 760 mil. Nunca tivemos tanta gente ao serviço do Estado. E, no entanto, nunca foi tão evidente o colapso dos serviços essenciais: filas nas urgências, professores em falta, tribunais congestionados, balcões das Finanças a marcar meses de espera.

O Estado engorda em números, mas emagrece em função. É um corpo inchado, pesado, incapaz de se mover com eficácia — e o cidadão, esse, continua anémico de serviços.

As causas do paradoxo

• Funcionários sem função: muitos estão em gabinetes políticos, comissões e organismos redundantes, longe da linha da frente onde os serviços falham.
• Desequilíbrio regional: concentração em Lisboa e serviços centrais, deixando desertos administrativos no interior.
• Estrutura envelhecida e desmotivada: carreiras congeladas, promoções sem mérito, excesso de chefes e falta de operacionais.
• Duplicação de organismos: cada governo cria novos institutos e direções-gerais, sem extinguir os anteriores.

O Estado Inchado

Não temos um Estado gordo no sentido de musculado e robusto. Temos um Estado inchado: pesado, burocrático, improdutivo. Alimenta-se de números para as estatísticas e esquece-se da sua missão primeira: servir os cidadãos. O resultado é grotesco: mais gente nas folhas de pagamento, menos gente a resolver problemas.

E o cidadão?

O cidadão comum é tratado como cliente de segunda num restaurante caro: paga a conta, mas sai de barriga vazia. O sistema falha na educação, na saúde, na justiça, nos serviços administrativos. Abril prometeu-nos dignidade; em vez disso, deram-nos uma máquina obesa que se alimenta de si própria e deixa os portugueses a pão e água de serviços públicos.