O Portugal da Máfia

A dança das cadeiras com dinheiro público — e o contribuinte a segurar o casaco.


Chama-se "gestão de recursos humanos", mas o povo conhece o enredo: sai pela porta da frente com indemnização, entra pela de serviço com cargo de confiança, e quando dás por isso, o Estado paga duas vezes — a saída e o regresso. Segundo uma investigação recente, um trabalhador da AICEP recebeu 192 mil euros para sair, foi logo a seguir adjunto num gabinete governamental e acabou novamente contratado… pelo Estado. E não foi caso único: houve mais dois episódios no mesmo bailado.

O nome surge no Diário da República: João Carlos Teixeira Rodeia, designado adjunto do Secretário de Estado do Turismo a partir de 1 de junho de 2024. Facto público e oficial. A moral da história é velha: os de dentro nunca ficam de fora por muito tempo.

Em Portugal, a porta giratória não é uma metáfora — é uma instituição. A máquina roda, o dinheiro sai, o contribuinte paga e a culpa morre solteira.

O circuito do saque legal (manual de bolso)

  • 1) Indemniza-se a saída — com valores que fariam corar empresas privadas prudentes.
  • 2) Recoloca-se no aparelho — via gabinetes, institutos, "missões" e assessorias.
  • 3) Lava-se com legalidade — tudo certinho nos papéis, nada a apontar… excepto a ética.
  • 4) Esquece-se o contribuinte — que financia esta coreografia e ainda aplaude, se calhar, por distração.

Isto não é normal — e não é inevitável

A promiscuidade entre gabinetes políticos e empresas/entidades públicas criou uma classe fechada de rotativos profissionais. A lei permite, a cultura incentiva, a fiscalização distrai-se. Mas há antídoto: sol, vidro e memória.

  • Transparência total e em tempo real de indemnizações, recontratações e vínculos nos últimos 5 anos.
  • Período de nojo obrigatório (24–36 meses) entre indemnização paga por saída e qualquer reentrada no Estado.
  • Cláusula de clawback: regressa ao Estado? Devolve proporcionalmente a indemnização recebida.
  • Parecer prévio e vinculativo do Tribunal de Contas para recontratações sensíveis.
  • Base pública pesquisável com cruzamento automático de DR, vínculos e pagamentos.

"Máfia" é uma palavra dura. A prática é mais dura ainda.

Chama-lhe rotação, chama-lhe mobilidade. Eu chamo-lhe captura do Estado. Não por pistola, mas por caneta. A criminalidade de colarinho branco aprendeu a operar à luz do dia: tudo legal, tudo impecável — e tudo profundamente imoral.

Abril ensinou-nos a derrubar ditaduras de farda. Falta-nos a coragem de derrubar as ditaduras de descaramento. Porque democracia sem vergonha pública para os abusos é apenas burocracia com hino.


✍️ Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen — Fragmentos do Caos
Nota: opinião baseada em informação pública. Confirmar sempre os factos caso a caso.

Fontes essenciais:
— Investigação sobre a indemnização de 192 mil € e reentrada no Estado (SÁBADO, 2 set 2025). 0
— Designação oficial de João Carlos Teixeira Rodeia como adjunto do Secretário de Estado do Turismo (Despacho n.º 5713/2024, DR, 22 mai 2024). 1
— Síntese noticiosa adicional. 2

🌌 Fragmentos do Caos – Sites Relacionados

Uma constelação de ideias, palavras e caos criativo – ao teu alcance.

A sua avaliação deste artigo é importante para nós. Obrigado.

[avaliacao_5estrelas]
🌌 Fragmentos do Caos: Blogue Ebooks Carrossel
👁️ Esta página foi visitada ... vezes.