O Reino dos Medos: Trump, o Partido e a Tragédia Americana

Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen

Há momentos na História em que a política se assemelha a uma peça de Shakespeare: reis erráticos, nobres hesitantes, um povo dividido e uma sombra que se alastra sobre o reino. Hoje, os Estados Unidos vivem precisamente essa tragédia, com Donald Trump a desempenhar o papel de soberano instável — errático, lunático, mas irresistivelmente carismático para milhões de fiéis.

A grande questão é: porque razão tantos senadores e congressistas republicanos continuam a apoiar, quase de olhos fechados, um líder que ameaça desmantelar o Estado de Direito, a economia e a própria democracia americana?

A resposta é simples e cruel: medo, cálculo e sobrevivência.

O medo da base eleitoral

Nos EUA, quem trai Trump arrisca-se a ser crucificado nas primárias pelo próprio eleitorado republicano. O partido foi sequestrado por uma base que venera o ex-presidente como profeta do ressentimento e da raiva. Para um senador, virar costas significa perder o assento, o poder, os financiamentos e a relevância política.

O partido sequestrado

O Partido Republicano deixou de ser o partido de Lincoln ou Reagan. É hoje o partido de Trump. As figuras moderadas que ousaram levantar a voz — de Mitt Romney a Liz Cheney — foram marginalizadas, ostracizadas ou expulsas. O trono é de Trump, e quem não se ajoelha é banido.

O pacto com os lobbies

Nos bastidores, muitos senadores não acreditam no "rei louco". Mas precisam dele. Trump entrega-lhes aquilo que os grandes lobbies exigem: desregulação, cortes fiscais, a garantia de que os interesses corporativos continuarão intocados. É um pacto faustiano: em troca da alma da democracia, recebem favores económicos e mediáticos.

O cálculo cínico

Alguns julgam que podem usar a energia populista de Trump como combustível para manter o partido vivo. Mas esquecem que a fera não é domada: quem julga controlar Trump acaba sempre por ser devorado por ele.

A ausência de alternativa

Nenhuma figura republicana consegue mobilizar massas com a mesma intensidade. Sem Trump, o partido corre o risco de fragmentar-se em facções irreconciliáveis. Assim, permanecem prisioneiros do próprio refém que escolheram como líder.


A Tragédia

Assim, no coração do Capitólio, assiste-se a uma encenação digna dos maiores dramas clássicos:

  • Um rei que se coloca no colo de Putin e Xi, tentando jogar xadrez com regras inventadas.
  • Um senado ajoelhado pelo medo de perder o trono.
  • Uma democracia que range, sob o peso da cobardia dos seus guardiões.

O resultado? Os EUA, que outrora foram o farol do Estado de Direito e da democracia liberal, arriscam-se a transformar-se num palco de tragédia política, onde a ambição cega, o medo e a conivência podem abrir as portas à noite mais longa.

Talvez um dia, os historiadores escrevam:

não foi Trump que destruiu a democracia americana, foram os que, com medo ou interesse, escolheram não se levantar contra ele.
🌌 Fragmentos do Caos: Blogue Ebooks Carrossel
👁️ Esta página foi visitada ... vezes.
— Rodapé Fragmentos do Caos function fc_footer_shortcode() { ob_start(); ?>

🌌 Fragmentos do Caos – Sites Relacionados

Uma constelação de ideias, palavras e caos criativo – ao teu alcance.

A sua avaliação deste artigo é importante para nós. Obrigado.

[avaliacao_5estrelas]