Estará Trump a sentir-se num jogo de casino ao estilo americano?
EUA a caminho do maior desaire financeiro?
A ofensiva política sobre a Reserva Federal não é só uma rixa doméstica. É um rasgão na confiança que sustenta o dólar — e um convite para a China ocupar o espaço que a complacência americana abre.
Donald Trump não discute apenas com tecnocratas em Washington; põe em causa a ideia de que os Estados Unidos são a âncora financeira do planeta. Quando a política tenta dobrar a Fed, o que se dobra é a confiança — e sem confiança, até o aço do dólar pode enferrujar.
Durante décadas, o dólar pareceu inevitável. Mas inevitável é só a aritmética da confiança. Os números contam a história:
Forçar cortes de juros, nomear aliados obedientes e transformar a Fed em extensão da Casa Branca pode render manchetes no curto prazo, mas cobra um preço alto no médio:
- Inflação estruturalmente mais elevada.
- Aumento do prémio de risco sobre os Treasuries.
- Fuga de capitais e volatilidade global importada.
A Turquia comprou crescimento curto ao preço da credibilidade: a lira desvalorizou cerca de 80% na última década e a inflação chegou a picos insustentáveis. Não, os EUA não são a Turquia. Mas a história rima quando a política manda e a técnica obedece.
Pequim não precisa derrubar o dólar — basta-lhe roê-lo pela base:
- CIPS, a rede de pagamentos para reduzir dependência do SWIFT.
- Acordos bilaterais em yuan com parceiros estratégicos.
- Acumulação persistente de ouro para reduzir exposição ao USD.
Se a Fed vacilar, não treme só Washington. Treme a prestação da hipoteca em Boston, o spread em Lisboa, o balanço em Frankfurt e as reservas em Jacarta. Um dólar fragilizado significa:
- Juros mais altos e financiamento público mais caro no mundo inteiro.
- Maior volatilidade nos mercados e procura por refúgios (ouro, yuan, até cripto).
- Fragmentação financeira e perda de coordenação internacional.
No fim, não é sobre um homem contra um banco central — é sobre um sistema a testar os seus próprios alicerces. Se os EUA brincarem com o fósforo da moeda de reserva, a chama ilumina primeiro a Casa Branca, mas o fumo sufoca o planeta. A prudência é cara; a imprudência, ruína.