A estatísticas de miséria da OCDE

Classe Média em Portugal? Só nas estatísticas da OCDE…
"Quando chamam classe média a quem mal sobrevive, não estão a mentir — estão a reescrever a realidade com matemática cínica."
Vivemos num país onde, segundo a OCDE, mais de 60% da população pertence à classe média. Um país onde, segundo os mesmos dados, basta ganhar 750 €/mês para integrar esse estrato social tão estimado pelos economistas e políticos do centrão. Sim, 750 € líquidos por mês — em Lisboa, no Porto, ou mesmo em cidades de menor dimensão onde as rendas, os transportes, os alimentos e os medicamentos não são menos exigentes.
Mas o que é, afinal, a classe média segundo esta entidade? Trata-se de uma faixa estatística, não de uma realidade social. De acordo com os critérios da OCDE, classe média são todos os que ganham entre 75% e 200% do rendimento mediano nacional. Ora, em Portugal, com um rendimento mediano a rondar os 1.000 €, isso significa que quem ganha entre 750 € e 2.000 € líquidos por mês está nesse grupo. Mas será que esse intervalo representa uma realidade comum?
Matemática e Miséria
Um trabalhador com 850 €/mês, depois de pagar 600 € de renda, sobra-lhe pouco mais de 200 €. Se tiver filhos, carro, ou uma doença crónica, o resto do mês é feito de improviso. Há milhares de portugueses assim — invisíveis, estatisticamente "médios", socialmente "marginais".
O conceito de classe média está, como muitos analistas admitem, "pervertido". Inclui quem deveria ser considerado economicamente vulnerável, quase em situação de pobreza oculta. A tal "classe média" que não pode ir de férias, que evita consultas privadas, que hesita antes de comprar carne ou peixe, que poupa luz ao ponto de viver entre sombras.
O País da Ilusão Estatística
Portugal é um país de contrastes gritantes: os 10% mais ricos ganham quase 9 vezes mais do que os 10% mais pobres. O salário mínimo aproxima-se dos 900 €, mas com impostos, IVA e custo de vida em espiral, a qualidade de vida aproxima-se do subsolo.
No interior do país, o custo de vida é marginalmente inferior — mas também o são os serviços, os salários, os acessos. E nos grandes centros, o trabalho está — mas os custos são proibitivos. O resultado? Uma classe média "à portuguesa": assoberbada, exaurida e iludida.
O que é conforto, hoje?
Em 2025, ter algum conforto significa poder pagar uma renda sem entrar em desespero. Significa poder ir de férias uma vez por ano, sem recorrer a crédito. Significa poder pagar o dentista, a conta do gás, um jantar fora. Significa não ter medo de um imprevisto.
Segundo as estimativas, talvez apenas 20% a 30% da população portuguesa vive com essa margem. Os restantes vivem entre a ansiedade e o improviso. E no entanto, continuam a figurar nos relatórios como membros da "próspera classe média".
"A classe média é hoje uma categoria de estatística, não de estabilidade. Um mito moderno onde se esconde a nova pobreza com roupa de domingo."
No país das grandes contas e das pequenas vidas, ser "classe média" tornou-se mais uma armadilha retórica. Serve para justificar políticas, para fingir inclusão, para fazer os números parecerem humanos.
Mas quem vive sabe. E quem sabe, não se deixa enganar.
📌 Artigo escrito por Augustus Veritas Lumen, com base em dados da OCDE, FFMS, INE e imprensa nacional.