Portugal e os Salários: a Pátria dos Remendos e das Promessas

Por Augustus Veritas
Publicado em Fragmentos do Caos

Trabalhar em Portugal é um ato de fé. Viver do salário, uma penitência. Reformar-se, um castigo adiado.

Portugal veste-se de Europa, fala em competitividade, em inovação e até em inteligência artificial. Mas a verdade nua é esta: a maioria dos portugueses vive de salários baixos e reformas miseráveis, enquanto o Estado multiplica anúncios, distribui migalhas e finge que governa para todos.

📉 Salário médio, salário mínimo… dignidade ausente

O salário médio ronda os 1.600 €/mês brutos. O mediano é mais baixo. Mas quase metade dos trabalhadores recebe abaixo dos 1.000 euros líquidos. E ainda mais grave mais de 1,1 milhão de pessoas ganham o salário mínimo nacional (820 € brutos em 2025). Depois dos descontos, restam cerca de 700€. Para viver. Para comer. Para sobreviver.

A retórica é europeia. Os rendimentos, de Europa do Leste… em 1990.

No setor público, os aumentos são percentuais de brincadeira. No setor privado, a precariedade domina. E nas zonas mais caras do país — Lisboa, Porto, Faro — o salário médio não paga sequer a renda média.

👴 Reformados: sobreviventes de um sistema indiferente

Quase 2 milhões de reformados vivem com pensões abaixo dos 500 €. Para muitos, a única salvação tem sido o Complemento Solidário para Idosos (CSI).

O Governo diz agora que "as reformas com o CSI passaram para 630€". Mas omitiram um detalhe: esse valor é o teto máximo teórico. A média real recebida ronda os 198,93 € mensais — o que significa que a maioria recebe muito menos do que o proclamado.

Dos quase 231.000 beneficiários atuais do CSI, **só uma pequena minoria recebe o valor cheio.** A maioria recebe complementos parciais, que não chegam para pagar sequer a farmácia.

📊 E os ricos? Continuam a receber apoios... indiretos

O Estado continua a subsidiar:

  • Rendas, de 1.700€ a 2.300€ para casais que ganham mais de 4.500€/mês.
  • Segundo dados que são públicos, 2.300 euros de renda é luxo que apenas está ao alcance de menos de 1% dos portugueses. Mas que demagogia governativa. ➤ Esta medida, portanto, não protege a classe média — protege a classe média-alta e os mais favorecidos.
  • Isenções fiscais para grandes investidores estrangeiros
  • Programas de investimento imobiliário que expulsam os próprios habitantes

Enquanto isso, o trabalhador que ganha 800€/mês… paga IRS, IVA, combustível, eletricidade, transportes, supermercado. E ouve dizer que está melhor que há 10 anos.

🧨 A bomba-relógio da pobreza silenciosa

Portugal tem uma nova classe social: os pobres que trabalham. Os que cumprem, mas não conseguem viver. Os que descontam, mas não verão retorno. Os que votam… mas são esquecidos no dia seguinte.

Esta pobreza moderna veste roupa limpa, usa telemóvel e até cartão multibanco. Mas vive em ansiedade permanente, sem poupança, sem férias, sem futuro.

Os números escondem. As promessas enganam. Mas a vida real desmascara tudo.

📢 Conclusão: o salário real não é só o que se recebe — é o que se pode viver com ele

Portugal precisa de mais do que aumentos cosméticos. Precisa de um novo contrato social que:

  • Garanta um salário digno a quem trabalha
  • Ofereça reformas justas a quem já deu tudo
  • Distribua riqueza em vez de retórica
  • Respeite quem constrói este país todos os dias

Publicado em Fragmentos do Caos por Augustus Veritas. Com o recibo de vencimento na mão… e a verdade na ponta da caneta.

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