Manual do Munícipe para Tótos

Manual do Autarca Populista em 7 Passos e Meio (com Rotunda Incluída)
por Augustus Veritas, sem avença camarária
Qualquer semelhança com a realidade portuguesa não é coincidência. É espelho. E cimento.
Passo 1 – O culto da rotunda
Antes de qualquer plano de desenvolvimento sustentável, vem a ROTUNDA.
Não interessa se é precisa.
O que interessa é que dá para plantar oliveiras, colocar estátuas sem cabeça e pendurar bandeiras no mês das festas.
E, claro, inaugura-se com foto, foguetes, bolo e um vídeo no Facebook da junta com música épica.
Porque em Portugal, o progresso mede-se em círculos.
Passo 2 – Cria um "Gabinete de Apoio ao Munícipe"
É basicamente uma sala com duas secretárias, três tias, cinco assessores e um sobrinho a fingir que sabe informática.
A função?
Ouvir queixas, prometer resolver, arquivar com firmeza.
Passo 3 – Arranja um empreiteiro "de confiança"
De preferência alguém que já te tratava por tu antes de seres eleito, que não pergunta preços, mas pede sempre "mais um aditamentozinho" no fim da obra.
O projeto dizia 60 mil euros?
Por milagre de Nossa Senhora da Câmara, fecha em 146 mil… com IVA simpático.
Passo 4 – Cria um evento por mês. Ou dois.
- Festival da Sopa
- Feira do Cogumelo
- Semana da Saúde Bucal
- Caminhada dos Avós com Vista para a Nascente
Tudo com cartaz em Comic Sans, DJ residente e 4 food trucks da freguesia vizinha.
Passo 5 – Oferece "postos de trabalho" a amigos
"É só uma avença de 900€/mês. Só faz 2 horas por semana, mas é muito competente... em ser meu afilhado."
Passo 6 – Cria uma revista municipal cheia de fotografias
- 82 páginas
- 41 com a tua cara
- 10 com obras que ainda não começaram
- O resto com idosos a segurar cartazes como:
"Este presidente é uma bênção de Deus."
Passo 7 – Pinta passadeiras a três dias das eleições
Não interessa se já lá estavam.
O que interessa é que fica bonito no drone.
E o eleitor diz:
"Este sim, trabalha! Olha aquela zebra… é novinha!"
Meio Passo Final – Chora se perderes. E volta no próximo mandato.
"O povo não me merecia."
"Mas estarei sempre aqui… por vós!"
(Voltas dois anos depois com um podcast sobre política local e uma loja de materiais de construção.)
Epílogo com cheiro a tinta fresca:
Portugal não é um país.
É uma união de repúblicas autárquicas semi-hereditárias.
Onde cada presidente é rei.
Onde cada rotunda é altar.
Onde cada câmara… é um cofre com janelas.